Cultivar_7_O risco na atividade economica

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 7 MARÇO 2017 22 Uma das contribuições fundamentais em Matemá- tica Financeira com implicações na gestão do risco deveu-se à fórmula de Black-Sholes-Merton para o apreçamento de opções europeias. Tratava-se de um novo método para determinar o valor justo de produtos derivados. Outra contribuição funda- mental foi dada por Harry Markowitz que lançou as bases da teoria da seleção de portfólios, com espe- cial ênfase para a o conceito de fronteira eficiente. Com base nesta curva eficiente, o gestor pode deci- dir qual o risco máximo admissível que a organiza- ção pode suportar para alcançar o maior retorno possível (esperado). Outras contribuições impor- tantes no âmbito da ges- tão do risco decorreram de modelos como o Capital Asset Pricing Model (CAPM) e o Arbritage Pricing Theory (APT), de conceitos como a estrutura temporal da taxa de juro e o Sharp Ratio , da teoria dos processos estocásticos, com particular ênfase para a teoria das martingalas em tempo con- tínuo e de modelos estatísticos como os modelos ARCH, GARCH, etc. Crises Financeiras no Século XX e XXI O crescimento dos mercados na segunda metade do século XX foi muito acentuado. Para isso con- tribuíram os desenvolvimentos das tecnologias de informação, a desregulamentação financeira na década de 80, a abolição do sistema de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas e os novos produ- tos financeiros derivados. As crises financeiras acompanharam o cresci- mento dos mercados e enfatizaram a importância da gestão do risco. São variadíssimas as grandes companhias que entraram em colapso ou em sérias dificuldades. São de destacar, por exemplo, na década de 90, a queda do Baring Bank 1 , o colapso 1 É bem conhecido no meio o impacto que o trader Nick Leeson teve no banco, ao apostar simultaneamente da Long-Term Capital Management, uma empresa gerida por dois prémios Nobel, Myron Scholes e Robert Merton, responsáveis pela famosa fórmula Black-Sholes, ou a rotura do Equitable Life 2 . Na viragem do século, os engenheiros financei- ros descobriram a magia da titularização. Trata- -se da emissão de títulos negociáveis que repre- sentam créditos, e portanto ativos com risco, cuja propriedade é transferida para terceiros. A ideia não era nova, sendo bem conhecida das compa- nhias de seguro, mas a titularização era agora feita a uma escala formidável, com empréstimos à habi- tação, obrigações, débitos de cartões de crédito, entre outros. Neste período surgiram as CDO, collateralized debt obligations , produtos finan- ceiros estruturados que agrupam ativos geradores de fluxo de caixa e agre- gam esse conjunto de ativos em parcelas que podem ser vendidas a investidores. Os ativos agru- pados, como hipotecas, títulos e empréstimos, são essencialmente obrigações de dívida que servem como garantia para a CDO. As parcelas das CDOs variam substancialmente consoante o seu perfil de risco. As CDOs explodiram em popularidade, tendo o seu valor subido de 30 mil milhões de dólares em 2003 para 225 mil milhões de dólares em 2006. Mas o seu valor caiu a pique durante a crise do subprime de 2007-2009 resultando na falência ou no resgate, por numa call e numa put tendo por base, como ativo subja- cente, o índice Nikkei. A posição poderia ter sido vanta- josa num cenário de baixa volatilidade, o que não se veri- ficou na altura. 2 Numa época de altas taxas de juro e inflação nas décadas de 70 e 80, a Equitable Life oferecia produtos de pensões com opções de taxas garantidas de 7%. Em 1993, as taxas de juro desceram consideravelmente abaixo dos 7% e a empresa não conseguiu suportar estes custos adicionais O crescimento dos mercados na segunda metade do século XX foi muito acentuado. As crises financeiras acompanharam o crescimento dos mercados e enfatizaram a importância da gestão do risco.

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