Cultivar_7_O risco na atividade economica

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 7 MARÇO 2017 10 dade económica (definição e tipologia de risco); 2. Medição do risco; 3. Gestão do risco e seus instru- mentos; 4. Gestão do risco e políticas públicas. A perceção individual do risco afeta as decisões produtivas, quer porque a generalidade dos agen- tes económicos prefere ter rendimentos estáveis (pelo menos na parte destinada a assegurar as des- pesas essenciais), quer porque coloca em causa a rendibilidade dos investimentos. A gestão do risco é, pois, da maior importância para evitar situações de enviesamento produtivo setorial e de subinves- timento. João Nicolau, professor do ISEG, define o risco eco- nómico e tipifica os principais riscos financeiros. Apresenta uma resenha histórica da gestão do risco, chama a atenção para os grandes desenvolvimen- tos recentes e expõe técnicas de medição do risco, com recurso a matemática avançada, em situações extremas, às quais a estatística clássica (baseada em médias e independência das ocorrências) não permite dar resposta. O autor alerta, porém, para que “ quando se faz a aplicação da matemática a problemas financei- ros (…) não se deve presumir necessariamente que a matemática envolvida seja útil e sensata ” pois o “ problema, na maior parte dos casos, são as hipóte- ses que se assumempara construir e aplicar os mode- los ”. Conclui que é necessário gerir adequadamente o risco para minimizar as suas ameaças e maximizar o seu potencial. Estes dois últimos desafios são retomados no artigo de Jean Cordier, professor em Rennes, que complementa a descrição da complexidade, das discussões e das tentativas de regulação da medi- ção do risco apresentadas no artigo anterior. Estas mostram as dificuldades que existem não só para os agricultores gerirem o seu risco, mas também para as instituições financeiras e seguradoras dis- ponibilizarem os instrumentos adequados. Deste modo, “ as políticas públicas devem (…) garantir que os mercados de gestão de risco estão comple- tos e, se necessário, intervir para facilitar o desenvol- vimento de instrumentos para os quais exista uma falha de mercado .” J. Cordier explicita o modo como estas questões se colocam no caso da agricultura e reflete sobre a inclusão na PAC do “ estabeleci- mento de garantias de compensação durante epi- sódios extremos de mercado ”. Defende ainda que “ a PAC deve abordar igualmente o risco associado à produção, fonte da chamada volatilidade exógena dos mercados”. Conclui que “a gestão do risco agrí- cola é fundamentalmente uma questão privada das empresas e, antes de mais, é preciso responsabilizar os agricultores .” O artigo de Álvaro Garrido, da Faculdade de Eco- nomia da Universidade de Coimbra, faz uma sín- tese histórica sobre as Mútuas de Pesca, que cons- tituem um dos mais antigos instrumentos de gestão e partilha de risco. “As mútuas são herdeiras de uma variada gama de instituições sociais e económicas” conjugando “uma herança comercial, ligada às anti- gas práticas dos seguros marítimos, e uma herança social, filiada na tradição do mutualismo laboral e dos seguros sociais de natureza socioprofissional.” Este caso precursor e de grande perenidade na gestão de riscos associado a uma atividade econó- mica (pesca) permite-nos fazer uma ligação com os vários exemplos de iniciativas setoriais agrícolas e florestais descritas na secção seguinte. PASTOR, Artur (1956), Coleção do acervo do Ministério da Agricul- tura, Florestas e Desenvolvimento Rural Slide: Extração do podre (tecidos mortos) do tronco de uma figueira, Loulé, Portugal

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw