Cultivar_4_Tecnologia
cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 38 tas condições a aplicação de glifosato nas margens das linhas de água. 4 E na comida? Certamente que os extensos progra- mas oficiais de monitorização de pesticidas em ali- mentos não serão omissos em relação ao herbicida mais aplicado no país? A resposta é...”nim.” Existe de facto um plano europeu que prevê a deteção de glifosato mas apenas em alguns (poucos) cereais. Mas na prática a teoria é outra: essas análises, ao que tudo indica, não têm sido feitas em Portugal. Na verdade já em 2015 era voz corrente que em 2016, mais uma vez, o glifosato iria ficar de fora. Tambémnão foi possível detetar, nos últimos quinze anos de relatórios de Controlo Nacional de Resí- duos de Pesticidas em Produtos de Origem Vegetal disponibilizados online pelo Ministério da Agricul- tura, qualquer análise ao glifosato – apesar de tal programa de controlo incluir milhares de amostras e envolver centenas de pesticidas. O Ministério da Agricultura argumentava em sua defesa, em janeiro de 2016, não estar na posse de informações que indiquem ser o glifosato uma substância «passível de incluir em controlo de rotina quer em produtos agrícolas de origem vege- tal, quer em águas destinadas a consumo humano pelo que não dispõe de dados que possa fornecer [...]», ou seja, não possui quaisquer números sobre a situação do glifosato em Portugal. O herbicida mais aplicado em todo o mundo... e em Portugal Estamos, note-se, a falar de um químico que não consegue passar despercebido visto acumular dois 4 ( www.cm-benavente.pt/downloads/ambiente/1292-apre- sentacao-limpeza-e-conservacao-de-linhas-de-agua/file) méritos duvidosos a nível nacional: é o herbicida mais consumido e o segundo químico mais aplicado em toda a agricultura (a seguir ao enxofre). É, tam- bém, o herbicida mais aplicado em todo o mundo. A assombrosa falta de curiosidade do Ministério da Agricultura pode ser vista sob um prisma otimista: quando não há análises, não há provas. E, sem provas, ninguém reclama. Entretanto quem quiser pode continuar a usar glifo- sato sem estados de alma, nomeadamente em modo de produção de proteção integrada e, até, recebendo contrapartidas através das «Medidas agroambientais» que, supostamente, finan- ciam as formas mais sustentáveis de agricultura. Estão desde já desculpados os que sentirem a iro- nia no seu auge. Mas de facto o retrato do glifosato não ficaria completo sem considerar o seu vasto uso em zonas urbanas, onde serve para matar ervas em ruas, caminhos e zonas públicas de lazer. Aqui, e na sequência de um requerimento parlamentar do Bloco de Esquerda apresentado em 2015, cujos resultados foram divulgados em 2016, é possível traçar um retrato aproximado da situação munici- pal. E os valores falam por si. Considerando a dose máxima autorizada em França para a agricultura, que é de cerca de 2 kg de glifo- sato por hectare e por ano (o que se traduz, para o caso por exemplo do Spasor , na aplicação de 6 litros de herbicida por hectare e por ano), ficamos a saber que Gondomar trata o equivalente a 660 campos de futebol com a dose máxima de herbi- cida – isto muito embora o concelho seja pequeno e as ruas e caminhos sejam apenas uma percenta- gem mínima da área total. Já em Odivelas, e pese embora a abertura da edili- dade a métodos não químicos, é referida a aplica- Certamente que os extensos programas oficiais de monitorização de pesticidas em alimentos não serão omissos em relação ao herbicida mais aplicado no país? A resposta é..."nim." Existe de facto um plano europeu que prevê a deteção de glifosato mas apenas em alguns (poucos) cereais.
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