Cultivar_4_Tecnologia
37 Glifosato, transgénicos e (falta de) precaução MARGARIDA SILVA Ph.D., Bióloga O glifosato é um herbicida muito usado em Por- tugal, quer na agricultura quer em espaços urba- nos, e o seu uso tem vindo a aumentar: em 2001 eram 700 e uma década depois são já 1400 as tone- ladas aplicadas anualmente. O nome em si – gli- fosato – não será muito conhecido, porque identi- fica apenas a substância ativa principal. Na prática em Portugal ele é vendido por múltiplas empresas sob mais de 60 nomes comerciais diferentes ( Rou- ndup, Spasor, Tornado, Montana, Touchdown , etc) sem falar das misturas com outros herbicidas. Apa- rentemente não existem quaisquer máximos legais que limitem a aplicação de glifosato no ambiente e qualquer pessoa pode comprar Roundup /glifosato no hipermercado. Para onde escorrem e se acumulam esses milha- res de toneladas anuais? O ideal era que o glifosato simplesmente desaparecesse, mas tal não parece ser o caso. Segundo o Departamento de Pesticidas do Estado da Califórnia, o glifosato é moderada- mente persistente no solo. 1 Isso significa, ainda de acordo com a mesma fonte, que ao fim de cerca de 52 dias só se degradou metade do glifosato apli- cado inicialmente. E que, depois de três meses e meio, ainda persiste 25% do teor presente no 1º dia. 1 ( www.cdpr.ca.gov/docs/emon/pubs/fatememo/glyphos. pdf) Já a solubilidade em água varia consoante as for- mulações. À temperatura ambiente o glifosato pro- priamente dito dissolve-se até um máximo de 12 g/ litro. Mas na forma de sal, que é a usada habitual- mente nos herbicidas, um litro de água consegue dissolver até 900 gramas (p.ex . no caso do sal de potássio). Devido a esta elevadíssima solubilidade a Ficha de Segurança do Roundup avisa que o pro- duto não deve entrar em contacto com canais de irrigação e outras linhas de água. 2 Monitorização da água? Face a tal alerta seria avisado incluir o glifosato nos planos de monitorização da água em Portugal. Mas este químico não consta das listas dos pestici- das a pesquisar em águas destinadas ao consumo humano definidas para 2016, tal como já não cons- tava em 2015, 2014 ou 2013. Ou 2012. O facto de o glifosato se degradar ainda mais lentamente em água do que em solo 3 não parece ter impacto peda- gógico junto do Ministério da Agricultura. Do lado do ambiente a sensibilidade não se afigura mais esclarecida: basta notar que a própria Administra- ção da Região Hidrográfica do Tejo prevê em cer- 2 ( www.cdms.net/ldat/mp07A002.pdf) 3 ( www.cdpr.ca.gov/docs/emon/pubs/fatememo/glyphos. pdf)
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