Cultivar_4_Tecnologia

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 32 em frutos – por exemplo para reduzir a velocidade de amadurecimento. Este conjunto de tecnologias tem vindo a ter uma aceitação diversa nos diferentes países. Enquanto os países do continente americano e da Oceânia e ainda países como a Índia e a China são favoráveis ao uso desta tecnologia, a União Europeia em geral e a Rússia, bem como a maioria dos países afri- canos restringem fortemente o uso de variedades melhoradas com recurso a esta tecnologia. As dife- renças de aceitação não residem, no entanto em quaisquer argumentos sólidos de natureza ética ou mesmo ambiental. Na realidade as restrições à dis- ponibilização dos produtos das variedades melho- radas com recurso a esta tecnologia são de origem ou ideológica ou económica. Contrariamente à perspetiva vigente na Europa, não existe ummodo de “cultivo GM”. Esta tecnologia tem como finalidade melhorar as variedades cultivadas, e a sua rotulagem, tal como é efetuada na Europa, não permite qualificar os produtos resultantes, mas antes rotular o método de melhoramento utilizado e amedrontar os consumido- res, entretanto convencidos com efabulações sobre esta tecnologia. De facto, não foram até agora encontra- dos dados que permitam supor que os produtos ali- mentares derivados das plantas assim melhoradas são prejudiciais à saúde, e o maior ou menor impacto do seu cultivo no agro-am- biente depende essencial- mente das práticas agríco- las utilizadas. Com o desenvolvimento da capacidade de sequen- ciar os genomas dos orga- nismos vivos iniciou-se entretanto, um a nova era para a capacidade de melhorar as plantas, de forma mais precisa e ainda mais racional, permitindo atuar com precisão numa determinada região do genoma ou numa sequência específica. O primeiro genoma vegetal a ser sequenciado foi o de uma planta modelo, com um genoma bastante pequeno, a arabidopsis, o qual foi descrito em 14 de dezembro 2000, na revista Nature ( The Arabi- dopsis Genome Iniative, 2000 Nature 408 : 796-815). Neste relato foram identificados 25.498 genes. Nele se pode também ler que “Esta é a primeira sequên- cia completa do genoma de uma planta (...), identi- ficando-se uma ampla gama de funções de genes específicos de plantas e (permitindo) estabelecer formas sistemáticas rápidos para identificar genes para melhoramento de culturas.” Atualmente exis- tem pelo menos noventa espécies de plantas terres- tres cujo genoma se encontra sequenciado, estando entre elas as principais culturas, como o trigo, o milho, o arroz, a batata, a batata-doce, a mandioca, e o feijão. Entretanto foram desen- volvidas novas técnicas de sequenciação denomina- das de nova geração (NGS), que apresentam como dife- rença fundamental em relação a técnicas anterio- res, sequenciarem, em vez de um fragmento de DNA único, milhões de fragmen- tos de uma forma massiva e em paralelo. Estas tec- nologias permitem reduzir significativamente o preço e o tempo necessário para a sequenciação dos geno- mas. Esta disponibilidade introduziu a perspetiva de se ‘re-sequenciarem’ os genomas de várias espé- A biotecnologia continuará a desenvolver ferramentas que permitirão aumentar a precisão e a velocidade com que se consegue ajustar a produção vegetal às nossas necessidades. Estes desenvolvimentos resultam da enorme pressão a que estamos sujeitos para responder a desafios como o aumento de cerca de 50% da produção agrícola vegetal até 2050, associado à impossibilidade de se aumentar a área agrícola disponível para esta produção e aos efeitos das alterações climáticas mais ou menos bruscas que se encontram atualmente em curso, incluindo-se nestas o aumento da temperatura, mas também os fenómenos climatéricos extremos e a degradação da qualidade dos solos aráveis.

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