Cultivar_4_Tecnologia
cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 30 aqui por exemplo a obten- ção de híbridos sintéticos e de híbridos simples, atual- mente utilizados em todo o mundo e que permitemusu- fruir do denominado “vigor Híbrido”. Neste contexto foram ainda desenvolvidas técnicas que permiti- ram a introgressão de variantes alélicas de espécies selvagens que possibilitam a obtenção de descen- dência fértil, quando cruzadas com as variedades a melhorar. Ainda nesta vertente foram desenvolvi- das novas espécies, resul- tantes do cruzamento de espécies de géneros distin- tos. Nestes casos o recurso à cultura in vitro para sal- vamento de embriões per- mitiu a obtenção de novas espécies como o triticale (× Triticosecale Wittmack) (fig. 3) e o tritordeum ( T. durum x H. chilense ). O tri- ticale é atualmente produ- zido em Portugal, na produ- ção de alimento para gado, sendo preferido devido à sua produtividade e tole- rância a doenças e pragas. Os últimos decénios (desde a década de 80) viram a introdução de marcadores moleculares como forma de reconhecer e identificar a variabilidade intraes- pecífica disponível. Estes marcadores molecula- res evoluíram de marca- dores baseados na análise da presença de isoenzi- mas, para a utilização de regiões aleatórias do DNA (RAPD e AFLP), passando pela identificação e uso de regiões do DNA denominadas de microssatéli- tes (SSR) e finalmente pela identificação e uso de polimorfismos de base única de DNA (SNP). Estes últimos marcadores são atualmente os utilizados pelas empresas de melho- ramento, para, utilizando as novas técnicas de sequen- ciação, ‘genotipar’ os geno- mas das diferentes varie- dades. Esta ‘genotipagem’ permite realizar estudos de associação entre caracterís- ticas genéticas quantitati- vas, controladas por alguns ou muitos genes que inte- ragem com o ambiente e entre si (epistasia) e que podem afetar mais do que uma característica (pleio- tropia), e as características fenotípicas observadas nas populações. Estes estudos, que podem ser realizados em populações segregan- tes, permitindo a identificação de loci de carac- terísticas quantitativas (QTL) ou em populações de indivíduos não relacionados que apresentem uma distribuição próxima da regular da variabili- dade, permitirão, num futuro mais ou menos dis- tante, identificar no “pool” genético de cada espé- cie, quais as variantes alélicas que influenciam cada uma das características desejadas. O obje- tivo futuro será conseguir mobilizar cada uma das variantes desejadas num ideótipo único. A identificação e marcação de regiões de DNA que controlam características desejáveis está atual- Figura 3 – Trigo / Centeio / Triticale Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Triticale Ao nível mundial é possível verificar, por exemplo, a redução da aplicação de inseticidas e herbicidas, bem como a redução da emissão de gases devido ao uso de variedades melhoradas com recurso à biotecnologia … Atualmente, a obtenção de novas variedades explora duas vias estratégicas distintas, ambas incorporando tecnologias de base molecular. A primeira destas vias explora a diversidade existente, não introduzindo alterações provenientes da manipulação laboratorial do genoma. A segunda pretende utilizar a tecnologia do DNA recombinante e as tecnologias dela decorrentes para produzir novas combinações genéticas. O que separa as duas vias é o grau de capacidade e de velocidade para mobilizar novas variantes alélicas, ou novos genes, para construir as combinações alélicas mais favoráveis.
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