Cultivar_31

58 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro convencionais (leilões) e/ou exportados (Espanha), ou recriados em pasto até ao ano (com suplementação biológica) para abate direto no mercado biológico. As vacas de refugo são exportadas para abate no mercado biológico, para Espanha. Quanto às ovelhas, usamos fêmeas Merino Preto cruzadas com P3 ou Ille de France. Todos os borregos nascidos são comercializados. A substituição é toda adquirida fora, escolhida com o máximo de critério em criadores de raça pura Merino Preto – desta forma valorizamos os nossos colegas que fazem um trabalho de melhoramento excelente e mantemos o nível genético do efetivo de produção num patamar muito elevado. Os ovinos têm um papel fundamental no nosso sequeiro – complementam o controlo mecânico dos matos e o controlo da vegetação, nas sementeiras; utilizam as parcelas pequenas e isoladas, em conjunto com os cavalos, onde seria difícil conduzir os bovinos. 3. A viabilidade da exploração agrícola de sequeiro está dependente das políticas públicas (ex. apoios à produção e serviços ambientais) ou de atividades alternativas (ex. floresta, turismo)? A maior ou menor dependência das políticas públicas (“apoios”, para o produtor, considerados como “subsídios” para a sociedade mal informada), não tem que ver com “sequeiro” ou “regadio”, quanto a nós. É uma generalidade, imposta pelo modelo económico desenvolvido pela União Europeia. Enquanto servirem para controlar a inflação – o que facilmente se depreende da extrema contenção dos preços à produção, imposta por uma distribuição concentrada, aparentemente “cartelizada” e sem uma agência de regulação que lhe imponha regras –, estes apoios garantem ao produtor a obtenção de um rendimento justo. Estes apoios podem ser atribuídos de formas e com objetivos diferentes – veja-se a complexidade de medidas –, mas para o produtor têm sempre o mesmo fim, como referido. Porém, para nós, a estratégia é aumentar a relação vendas/apoios. Nesse aspeto, temos vindo a conseguir, gradualmente, diminuir a dependência das políticas públicas, com bastante sucesso. No nosso caso particular, a floresta (montado) assegura rendimentos complementares muito significativos, para além da componente biológica fundamental no nosso sistema de produção. Creio que, comparativamente, os sistemas em regadio têm custos mais elevados, o que por isso obriga a um maior valor de vendas e, teoricamente, menores margens por unidade de produto. Este facto faz com que o regadio seja mais suscetível ao aumento dos custos das matérias-primas (especial destaque para a energia e a água), às oscilações da produção e à pressão dos preços dos produtos no mercado. Em contraste, se no sequeiro conseguirmos margens por unidade de produto superiores às do regadio, então tornamo-nos mais “robustos”, porque teremos mais margem para fazer face às oscilações atrás mencionadas. Os apoios públicos têm o papel de completar o rendimento da exploração, mantendo preços baixos nas “prateleiras do supermercado”. No extremo, em minha opinião, considero que os “apoios” ao agricultor são verdadeiramente “subsídios ao consumidor”! 4. Como vê o futuro das explorações e superfície agrícola de sequeiro no nosso país num contexto de alterações climáticas? Olhamos para as alterações climáticas como se fosse um dado adquirido e imutável e, para além disso, parece-me que a maioria das pessoas crê que o seu efeito é um aumento desmedido das temperaturas do verão e do período seco. Uma informação mais cuidadosa mostra-nos que há vários cenários possíveis, com efeitos diferentes consoante a região. Da minha

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