Cultivar_31

38 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro ● Na ocorrência de períodos de seca mesmo durante a estação húmida, que podem afetar épocas críticas do crescimento das plantas, como as primeiras fases de crescimento após a germinação, a floração ou o enchimento do grão e, por essa via, limitar a sobrevivência, o crescimento das plantas e a sua produtividade. Para além dos efeitos diretos sobre o crescimento das plantas, a ocorrência de precipitações intensas e concentradas aumenta o risco de lixiviação, enquanto as secas frequentes, como as que ocorrem na generalidade do país, colocam um fator de pressão e de degradação sobre os solos onde se desenvolvem estas culturas, resultando frequentemente em solos com teores de matéria orgânica muito baixos, mais expostos a erosão e com problemas de drenagem e/ou de infiltração e/ou retenção da precipitação. Estas condições são especialmente desafiantes do ponto de vista económico, já que reduzem a previsibilidade do retorno do investimento no momento da instalação da cultura. Uma sequência de anos com quebras significativas de produção, ou mesmo falhanço das culturas, pode não permitir ao agricultor recuperar perdas económicas e investir em novas campanhas. A incerteza quanto ao retorno do investimento pode também levar os agricultores a retraírem-se no investimento em fatores de produção, como fertilizantes ou sementes de qualidade, o que, a ocorrer, levará a perdas de produção mesmo em anos com condições favoráveis. As alterações climáticas estão a traduzir-se num impacto significativo nos padrões de precipitação em Portugal, refletindo-se em várias mudanças que afetam tanto a quantidade quanto a distribuição da chuva ao longo do ano. Para além de uma tendên3 https://rna2100.apambiente.pt/pagina/programa-ambiente-alteracoes-climaticas-e-economia-de-baixo-carbono cia de redução na quantidade de precipitação total anual (principalmente nas regiões do sul), coexistem duas tendências com impacto significativo para a agricultura de sequeiro: uma maior concentração da precipitação nos meses de inverno (isto é, uma maior redução no resto do ano) o que resulta em períodos mais longos de seca e maior irregularidade na disponibilidade de água; e um aumento da intensidade das precipitações, isto é, quando chove, a precipitação tende a ser mais concentrada e intensa, aumentando o risco de cheias rápidas e inundações. Estas tendências na precipitação, combinadas com as alterações que ocorrem ao nível da temperatura e da evapotranspiração, levarão a um aumento da duração e frequência das secas, terão impacto nas reservas de água e na capacidade de recarga de aquíferos subterrâneos e irão exacerbar as pressões de desertificação e degradação dos solos. Ou seja, tudo o resto sendo igual, os desafios já existentes para a agricultura de sequeiro tenderão a ser reforçados com as alterações climáticas. Tal é evidenciado pelas projeções de produtividade agrícola do recente Roteiro Nacional para a Adaptação 21003 que apontam para perdas de produtividade média para a generalidade das culturas. Mas significa isto o fim da agricultura de sequeiro em Portugal? Boa parte da resposta estará em fazer ou não “tudo igual”. Que podemos então fazer de diferente? Converter sequeiro em regadio Embora o regadio possa parecer a solução evidente para os problemas da agricultura de sequeiro, ele apresenta alguns riscos e desvantagens, especialmente em contexto de alterações climáticas e quando aplicado em larga escala. Desde logo porque uma maior escassez total do recurso água ao longo … tudo o resto sendo igual, os desafios já existentes para a agricultura de sequeiro tenderão a ser reforçados com as alterações climáticas. Mas significa isto o fim da agricultura de sequeiro em Portugal? Boa parte da resposta estará em fazer ou não “tudo igual”. Que podemos então fazer de diferente?

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