Cultivar_31

100 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro não ocorre no Sul em que, por exemplo, o Guadiana armazena mais de 70% do seu caudal. O facto de a água correr para o mar sem ser utilizada em proveito da agricultura ou de outros setores de atividade é justamente apontado como um fator limitante do progresso e gritante indicador do nosso subdesenvolvimento. O ciclo da água Outra ideia que não tem suporte científico é o de que a agricultura consome água. A agricultura não consome água! Apenas a utiliza para produzir alimentos. Aprendemos na escola que para produzir dez quilogramas de maçãs, ou de peras, será necessário usar 1 m3 de água (que é o equivalente a uma tonelada), pelo que os frutos retêm na sua composição cerca de um por cento da água com que são irrigados, água essa que conjuntamente com os demais componentes do fruto, iremos saborear quando comermos uma deliciosa pera Rocha do Oeste ou uma crocante maçã de Alcobaça. Então qual o destino dos restantes 99% que são usados pelo metabolismo das pereiras e macieiras para ser eficaz na produção dos frutos? Essa água é devolvida à Natureza – a que foi utilizada pela planta será evapotranspirada por ela na forma de vapor de água, e a parte restante, que com a rega ajudou a manter o solo húmido com boas condições de desenvolvimento de todo o seu bioma, não tendo sido absorvida pelas plantas, irá reforçar os aquíferos existentes. Pensamos que fica claro que toda a água que irriga um pomar é devolvida, nada se consumindo. Toda ela é devolvida à Natureza – 1% dessa quantidade irá ser consumida por nós quando comermos uma pera ou uma maçã e os restantes 99% são evapotranspirados pelas plantas sob a forma de vapor de água ou vão reforçar os aquíferos do subsolo. Esta circulação da água para irrigar os pomares torna as plantas mais eficientes e permite criar riqueza. Na escola primária ensina-se o ciclo da água, que aqui recordamos com uma imagem simples. Para entender o que aqui expomos, para entender o foco daquilo que queremos transmitir, do prisma como vemos esta questão, será necessário apreender a eficácia, a simplicidade e a beleza do ciclo da água. É comprovadamente eficaz, mas também é belo ao ser uma peça basilar do ciclo da vida. E a terceira característica, que é a sua simplicidade, deve ser compreendida e adaptada pelo Homem para conduzir água a quem não a tem, alargando o seu ciclo a territórios que dela carecem e auxiliando a Natureza a cumprir as missões da sua existência. A escassez de água Existe, de facto, uma errada perceção da escassez de água. Este tema parece ser pleno de contradições que impossibilitam alcançar uma solução, nomeadamente: — Em Portugal chove o suficiente; — Recebemos água do país vizinho; — A evapotranspiração é inferior à pluviosidade; — O 1% de água que os frutos retêm é uma quantidade insignificante;

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