Cultivar_30

Editorial 9 barata. Conclui, afirmando que “temos o dever ético de utilizar as ferramentas modernas e cientificamente comprovadas para suprir as necessidades da humanidade.” Michael Antoniou e Claire Robinson, do King’s College London e da GMWatch, respetivamente, afirmam que as culturas geneticamente modificadas do passado não cumpriram as suas promessas de aumento de produtividade e sustentabilidade e que as NTG também não o farão, apesar das alegações em contrário. Referem que, por um lado, não são forçosamente necessários aumentos de produtividade para alimentar uma população ainda crescente – mais importante seria, por exemplo, combater o desperdício alimentar – e que, por outro lado, grande parte das características que se pretende obter são omnigénicas, ou seja, dependem de mais do que um gene. Afirmam também: “a genética é apenas parte da solução. Não basta concentrarmo-nos em características isoladas – são os sistemas agrícolas que dão sustentabilidade e resiliência.” E alertam para consequências imprevistas para a saúde e o ambiente, ou mesmo a produtividade, dado que “todos os genes funcionam integrados numa rede ou ecossistema (…) a alteração de apenas um gene pode ter impactos importantes na bioquímica de um organismo”. Jorge Canhoto, da Universidade de Coimbra, “resume a longa jornada do melhoramento de plantas, elucidando os métodos empregados desde a domesticação até às modernas técnicas de edição de genes.” Ao longo do artigo, esclarecem-se as diferentes fases deste percurso, do melhoramento convencional, passando pela descoberta científica das leis de Mendel e da evolução, às técnicas descobertas nos séculos XX e XXI de recombinação e edição genéticas. O autor recorda que “embora o melhoramento clássico de plantas não envolva a manipulação direta dos genomas das plantas a nível molecular, ele resulta em mudanças genéticas nas populações de plantas ao longo do tempo.” O objetivo é sempre o da obtenção de “variedades de culturas com melhores características agronómicas, resiliência e produtividade”, para garantir o abastecimento alimentar de uma população crescente e “enfrentar desafios agrícolas prementes.” A abrir a secção Observatório, apresentamos duas visões de duas associações com características bem diferentes: a ANSEME, Associação Nacional dos Produtores e Comerciantes de Sementes, e a Plataforma Transgénicos Fora. Como fizemos já no passado, colocámos três perguntas para as quais pedimos respostas relativamente sucintas. As perspetivas são diversas e deixam matéria para reflexão: se, por um lado, estas novas tecnologias poderão permitir aumentos de produtividade e competitividade e a resolução de vários problemas que afetam atualmente não só o setor agrícola, mas também o planeta, é preciso, por outro lado, não deixar de ter em conta o importante princípio da precaução, muitas vezes descurado. Maria Carlota Vaz Patto, do ITQB-NOVA, traça um breve panorama dos desenvolvimentos mais recentes do melhoramento vegetal, centrando-se depois no trabalho realizado no seu laboratório: “O objetivo do PlantX é contribuir para um melhoramento mais rápido e eficiente de cereais e leguminosas, algumas das quais são NUC [culturas negligenciadas e subutilizadas] com importância social ou económica para o país.” Para isso, fazem colheitas de germoplasma de variedades tradicionais ou recorrem a bancos existentes, em busca das características pretendidas: “o aumento da produção, (…) a resistência a doenças e intempéries (como a seca), a qualidade nutricional, organolética e de processamento.” Para obter tais características, recorrem a diversas abordagens inovadoras, que passam naturalmente também por ensaios de campo, e por uma “colaboração multidisciplinar e participativa, envolvendo cidadãos, agricultores e diversos grupos de investigação nacionais”. Catarina Ginja e Carolina Sousa, do CIISA, falam dos meios e abordagens utilizados na gestão e conservação dos recursos genéticos das raças autóctones portuguesas e da grande biodiversidade que lhes está associada, e de como essas práticas são facilitadas por novas tecnologias recentemente desenvolvidas. Referem igualmente a história destas raças que, graças a essas novas técnicas, é agora possível traçar mais claramente, indicando ainda a respetiva distribuição geográfica e abundância relativa no nosso país. Relembram a necessidade de as instituições

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