79 Biodiversidade dos animais domésticos da Península Ibérica: uma perspetiva genómica* CATARINA GINJA E CAROLINA BRUNO DE SOUSA CIISA, Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa** Na Península Ibérica, a biodiversidade das espécies de animais domésticos (e.g. bovinos, ovinos, caprinos, suínos e canídeos) é excecionalmente elevada, com um grande número de raças autóctones bem adaptadas1. Por exemplo, existem em Portugal 15 raças de bovinos distribuídas por uma grande variedade de ambientes, desde as terras altas do Norte do país às planícies do Alentejo: os seus morfotipos são muito distintos e o seu contributo para a sustentabilidade rural, fertilidade dos solos e diversidade genética, é muito relevante (ver Figura 1). Estas raças desempenharam ao longo do tempo um papel importante no desenvolvimento do efetivo pecuário noutras regiões do globo. Um exemplo paradigmático é o dos animais oriundos da Península Ibérica que deram origem às raças crioulas tendo sido levados para as Américas nos primeiros anos de descoberta e colonização (Rouse 1977). Outro exemplo é o das ovelhas de lã fina, Merino, cuja origem é atribuída aos romanos do sul da Península Ibérica que se pensa terem melhorado a qualidade da sua lã, com possíveis contributos de animais do norte de Marrocos trazidos por berberes Benamerim ou Merí- * O artigo não foi originalmente escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990. [Nota da equipa editorial, a pedido das autoras] ** https://ciisa.fmv.ulisboa.pt/ 1 https://www.fao.org/dad-is/data/en/ nidas (Klein 1920; Forster and Heffner 1954). Atualmente, as raças comerciais de ovinos Merino são criadas na região Sul da Península Ibérica, enquanto as de lã grosseira (Churra) predominam nas zonas Centro e Norte (Figura 1). A associação desta diversidade fenotípica com a variabilidade genética subjacente é agora grandemente facilitada pelo desenvolvimento das tecnologias de sequenciação e dos métodos de análise genómica. A identificação de marcadores genómicos associados à adaptação aos ecossistemas e à resistência a doenças, juntamente com marcadores moleculares para certas características produtivas, poderá ser utilizada no melhoramento animal de forma a garantir uma utilização sustentável e continuada destes recursos genéticos localmente adaptados. Neste trabalho, tentámos integrar os desenvolvimentos tecnológicos no domínio da Biologia Molecular com o estado da arte no que respeita à caracterização da diversidade genética das espécies de animais domésticos da Península Ibérica, abordando os seguintes aspetos:
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