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Técnicas genómicas: prós e contras 67 O enunciado da pergunta é questionável, pois de acordo com várias organizações internacionais, como a FAO, o mundo está a produzir alimentos suficientes6 para todos (incluindo na Europa7), e tem, mesmo sem os Novos OGM8 ou Novas Técnicas Genómicas (nOGM/NTG), capacidade para dobrar essa produção9, e ainda assim 10% da população global10 enfrenta a fome11. Só atendendo aos custos sociais12 poderemos aferir objetivamente os benefícios e malefícios dos modelos produtivos. Vários relatórios oficiais13 refletem-nos, mas têm sido ignorados pela análise agronómica e económica convencionais. O argumento produtivista – seja ele elaborado enquanto aumento do rendimento dos cultivos ou do rendimento do capital – não reflete os reais resultados obtidos, é falacioso quanto à redução efetiva da fome e da vulnerabilidade alimentar, e não tem em conta a eficiência14 e a sustentabilidade15 dos recursos utilizados. Nos Estados Unidos, o maior produtor de culturas OGM, 13% da população vive em áreas designadas como desertos alimentares16. Da mesma forma, o aumento da produção agrícola na União Europeia não reduziu os níveis de desnutrição e fome. Isto ocorre porque tais desafios humanitários não se limitam à escassez de comida, estendem-se às desigualdades redistributivas17, e às injustiças e conflitos sociais que afetam principalmente os mais pobres, paradoxalmente, incluindo muitos agricultores. Em Portugal, 12% da população enfrenta desafios ali6 https://www.ers.usda.gov/amber-waves/2018/march/agricultural-productivity-growth-in-the-united-states-1948-2015 7 https://www.ers.usda.gov/webdocs/outlooks/40408/30645_wrs0404e_002.pdf 8 https://www.ers.usda.gov/publications/pub-details/?pubid=45182 9 https://www.bloomberg.com/news/features/2020-12-15/no-more-hunger-how-to-feed-everyone-on-earth-with-just-the-land-we-have 10 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5996965/ 11 https://waronwant.org/sites/default/files/2023-02/Profiting from hunger PDF download.pdf 12 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S095937802200005X 13 https://ipes-food.org/_img/upload/files/AnotherPerfectStorm.pdf 14 https://www.foodsecurity.ac.uk/publications/food-waste-within-global-food-systems.pdf 15 http://www.srfood.org/en/wake-up-before-it-is-too-late-report-on-sustainable-agriculture-for-unctad 16 https://www.aecf.org/blog/exploring-americas-food-deserts 17 https://waronwant.org/sites/default/files/2023-02/Profiting%20from%20hunger%20PDF%20download.pdf 18 https://eco.sapo.pt/2023/07/12/mais-de-12-da-populacao-portuguesa-em-inseguranca-alimentar-moderada-ou-severa/ 19 https://www.arcgis.com/apps/Cascade/index.html?appid=5235a8d8c6014e44ac8723f14540ce31 20 https://getpocket.com/explore/item/diet-for-a-hotter-climate-five-plants-that-could-help-feed-the-world mentares18, agravados por uma inflação relacionada com o aumento dos custos de produção, com as margens de lucro dos intermediários, e com uma cadeia de negócio que desperdiça entre 30-50% dos alimentos produzidos19. É diante desta complexa realidade, que a agricultura biológica, biodinâmica e a agroecologia (AB/AD/AE) emergem como modelos alternativos viáveis e resilientes20, porque: — enfatizam práticas agrícolas sustentáveis, que utilizam de forma mais eficiente os recursos naturais, humanos e culturais das regiões de produção, e salvaguardam florestas e aquíferos; — integram o cálculo dos custos sociais na produção; — reduzem os impactos negativos da produção convencional, diminuindo o uso de produtos químicos e contrariando o modelo de monocultura; — promovem uma maior diversidade de espécies agrícolas e um melhor equilíbrio ecossistémico; — adotam uma forma de distribuição mais equitativa, baseada na proximidade; — reduzem o desperdício alimentar; —preservam os conhecimentos tradicionais, minimizando a dependência do mercado e das suas flutuações, muito vulneráveis a choques como os originados por conflitos armados.

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