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53 Velhos problemas, novas soluções: o potencial das Novas Técnicas Genómicas para a agricultura JORGE M. CANHOTO Professor na Universidade de Coimbra e Presidente do Centro de Informação de Biotecnologia O melhoramento de plantas é um testemunho do engenho da humanidade, materializando a nossa busca para aproveitar a abundância da natureza em termos de sustento e prosperidade. Ao longo de milénios, a prática evoluiu da simples seleção de características desejáveis em ancestrais selvagens para manipulações genéticas sofisticadas através de modernas ferramentas biotecnológicas. Hoje, os melhoradores de plantas empregam uma combinação de métodos tradicionais de melhoramento e tecnologias de ponta para desenvolver variedades com melhor desempenho agronómico, qualidade nutricional e sustentabilidade. Este artigo resume a longa jornada do melhoramento de plantas, elucidando os métodos empregados desde a domesticação até às modernas técnicas de edição de genes. No princípio era a domesticação A manipulação genética de plantas e as consequentes modificações nas variedades que hoje conhecemos tem origem na domesticação de plantas, um momento crucial na história da humanidade marcado pela transição de estilos de vida nómadas de caçadores-coletores para sociedades agrícolas estabelecidas, que ficou conhecido como Revolução Neolítica, há cerca de 10 000 a 12 000 anos, na Mesopotâmia, localizada nos vales férteis entre os rios Tigre e Eufrates. À medida que os primeiros humanos começaram a cultivar, transformaram os progenitores selvagens em variedades domesticadas favorecendo plantas com características desejáveis, tais como maior rendimento, ausência de dispersão das sementes, palatabilidade e adaptabilidade a diversos A manipulação genética de plantas e as consequentes modificações nas variedades que hoje conhecemos tem origem na domesticação de plantas, um momento crucial na história da humanidade … ...Assim, a distinção entre “natural” e “não natural” foi obscurecida. Toranjas vermelhas criadas por radiação de neutrões, melancias sem sementes produzidas com o composto químico colquicina, pomares de macieiras em que cada árvore é um clone genético perfeito das suas vizinhas – nenhum desses aspetos da agricultura moderna é natural. No entanto, a maioria de nós come esses alimentos sem protestar. Jennifer A. Doudna (Prémio Nobel da Química em 2020, juntamente com Emmanuelle Charpentier, devido os seus trabalhos relacionados com a edição genética)

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