Cultivar_30

16 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 30 ABRIL 2024 – Melhoramento e técnicas genómicas Por um lado, existe uma pressão, atrás justificada, para se produzir mais alimentos, por outro, existe uma visão conservacionista de que as soluções sustentáveis passam apenas pelas variedades autóctones e seus modos de produção (tradicionais ou de baixa intervenção). 2. Alguns apontamentos históricos A alimentação ganhou hoje uma renovada atualidade no debate no espaço público. Por um lado, persistem, como vimos, problemas de má nutrição em alguns blocos geográficos, com dificuldades ao nível da estruturação da cadeia de produção e fornecimento, por outro lado, nas sociedades da “abundância”, o desperdício e as doenças associadas à obesidade ou outras doenças levantam preocupações públicas. Acresce ainda a pressão ecológica da produção e distribuição dos alimentos exercida sobre os recursos naturais (terra, água e biodiversidade) e o clima. Este contexto é suscetível de pressionar para uma regulação por parte das políticas públicas, mas nem sempre se tem em conta a evolução da história da alimentação e do engenho humano ao longo de séculos, ou milénios, na procura de um abastecimento alimentar regular e saudável. A história da alimentação é um percurso de procura de soluções técnicas na manipulação e domesticação de culturas vegetais e espécies animais. Para refletir sobre a história da alimentação há dois pilares incontornáveis: a evolução tecnológica e a envolvência cultural. Estes dois pilares enformam os sistemas alimentares e não se pode ter a presunção de que a história da alimentação começou hoje. Destacamos em seguida alguns pontos que deveremos ter em conta na elaboração de estratégias ou na regulação dos sistemas alimentares: As plantas e os alimentos viajam e são “apropriados” culturalmente Como primeiro ponto, é importante realçar que as principais culturas que garantem o abastecimento alimentar no mundo são culturas que tiveram origem exótica: é o caso do milho, do trigo, do arroz. Estas culturas têm vindo a ser continuamente melhoradas na resistência a doenças e à seca e ainda no aumento das produtividades unitárias. Do ponto de vista social e patrimonial, são várias as culturas e os alimentos que são “apropriados” culturalmente por diferentes países, geografias e cozinhas. A malagueta é uma referência incontornável na cozinha indiana, mas foi introduzida na Ásia pelos portugueses aquando dos Descobrimentos. O mesmo se pode referir face à mandioca em África, que proveio também da América do Sul. E para dar um exemplo da cozinha europeia, o tomate é um ingrediente comum nos pratos de massa em Itália há apenas 200 anos. Constatamos, assim, que a partilha de variedades mais produtivas ou nutritivas, ao longo dos tempos, foi um avanço civilizacional muito importante e que essa troca teve o potencial de enriquecer culturalmente os diferentes povos. A história da agricultura é uma história de eficiência e introdução de tecnologias Através do engenho humano, foram sendo introduzidas tecnologias para dar resposta às necessidades alimentares e ao bem-estar das populações. A história da alimentação é um percurso de procura de soluções técnicas na manipulação e domesticação de culturas vegetais e espécies animais. Para refletir sobre a história da alimentação há dois pilares incontornáveis: a evolução tecnológica e a envolvência cultural. … é importante realçar que as principais culturas que garantem o abastecimento alimentar no mundo são culturas que tiveram origem exótica: é o caso do milho, do trigo, do arroz.

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