132 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 30 ABRIL 2024 – Melhoramento e técnicas genómicas sequência pela Cas9, inativando o vírus); no fundo, funciona como uma vacina (sistema de imunidade adaptativa procariótica). Esta capacidade natural das bactérias foi descrita e testada em laboratório tendo sido aplicada nomeadamente na medicina6. Capítulo 6: aborda o segundo grupo de técnicas – edição de genes que não envolve cortes nas duas cadeias de DNA: mutagénese orientada por um oligonucleótido, edição de bases e edição de primers. Capítulo 7: apresenta o terceiro grupo de técnicas – edição do epigenoma: modulação do estado epigenético num sítio específico e ativadores e repressores num sítio específico (CRISPRa e CRISPRi). Capítulo 8: analisa o quarto grupo de técnicas – edição de ARN direcionado: edição das bases de ARN; interferência do oligonucleótido mediado pelo ARN; interferência do CRISPR-Cas mediado pelo ARN; manipulação de isoformas de correções de ARN. Conclusões Apesar das várias técnicas descritas no relatório, é de destacar a ferramenta CRISPR-Cas97, uma das mais recentes e talvez a mais poderosa e versátil na edição do genoma. Esta técnica é considerada revolucionária, tendo oferecido novas oportunidades em várias áreas, nomeadamente na terapia genética humana, nas análises de diagnóstico, na biotecnologia industrial, no melhoramento vegetal e nos biossensores. Contudo, a rapidez de desenvolvimento da CRISPR associada à grande adaptabilidade da técnica a 6 As “células doentes” extraídas do paciente são sujeitas a um processo de edição genética (preparação em laboratório do complexo formado pelo ARNguia, que coincide com o local doente do ADN, e pelo Cas9, a “tesoura”; o complexo identifica e corta o local “doente” do ADN; há reparação do ADN através do processo de reparação homóloga direcionada), seguindo-se a multiplicação destas células “reparadas” em laboratório, as quais são posteriormente injetadas no paciente. 7 Sugestão: assistir à TED talk que decorreu em 2015 com a geneticista Jennifer Doudna que co-inventou a CRISPR-CAS9 em conjunto com Emmanuelle Charpentier. As duas cientistas foram laureadas com o Prémio Nobel da Química de 2020 pelo desenvolvimento desta técnica: https://www.youtube.com/watch?v=TdBAHexVYzc 8 Enquanto as técnicas anteriores geralmente têm uma abordagem menos precisa e podem afetar uma gama mais ampla de genes de maneira imprevisível, as NTG são frequentemente sequências em que o efeito da alteração é conhecido de outros organismos. 9 As NTG geralmente permitem edições mais precisas e direcionadas no genoma, reduzindo a probabilidade de inserções aleatórias de transgenes e respetivos efeitos indesejados. 10 Enquanto as técnicas anteriores consistem, em grande medida, na inserção de novas sequências, as NTG podem ser utilizadas para efetuar pequenas ou grandes supressões de sequências, inserções curtas ou substituições de pares de bases. diversos organismos (desde bactérias a organismos complexos) e células (adultas, embrionárias, gâmetas), à capacidade de transmissão das novas alterações às gerações seguintes, bem como a relativa facilidade de utilização continuam a levantar muitas questões éticas (e.g. a aplicação em embriões humanos) e dificuldades de previsão de outros riscos (e.g. efeitos secundários desconhecidos). O que distingue as Novas Técnicas Genómicas das anteriores (ver anexo) é sobretudo a maior precisão da manipulação genética8, o menor tempo despendido na obtenção de indivíduos melhorados, a maior previsibilidade dos resultados9, a possibilidade de pequenas alterações10 (e.g. ao nível dos nucleótidos), a possibilidade de realizar várias alterações precisas em simultâneo (abordagem multiplex) e o menor custo associado. O futuro revela-se bastante promissor com a aplicação destas novas ferramentas (e.g. melhoramento vegetal), atendendo nomeadamente aos grandes desafios das alterações climáticas e do crescimento demográfico acompanhado de grandes diversidades / desigualdades regionais (económicas, sociais, ambientais, territoriais). Comentários / sugestões O relatório analisado é um documento desenvolvido pelo JRC, apresentando, por isso, algum grau de complexidade técnica, e não sendo de fácil compreensão para quem não domine algumas matérias, nomeadamente Biologia, Bioquímica e Genética.
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