Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 3 março 2016 18 de predadores e parasitoides, logo com maior necessidade de utilização de pesticidas. Depende também de elevados níveis de nutrientes disponí- veis no solo, logo adubações copiosas. Este exem- plo ilustra a “resistência” do modelo tecnológico vigente: não é possível mudar as técnicas uma a uma; a mudança requer a emergência de um novo modelo tecnológico alternativo ao modelo vigente em que novas técnicas – baseadas em determina- das áreas do conhecimento, frequentemente não privi- legiadas no modelo vigente – se articularão umas com as outras de modo a res- ponder a novas necessida- des e novos desafios. Existem pelo menos duas vias estratégicas para a transição de modelo tec- nológico na agricultura que podemos hoje ante- ver e que podem condu- zir-nos ao desligamento do crescimento da produção por hectare face aos níveis de utilização de inputs por hectare. A primeira destas vias baseia-se no aumento da eficiência na utilização dos inputs , por aplicação dos mesmos de um modo mais preciso, no tempo e no espaço – o que é refe- rido como agricultura de precisão, num sentido genérico do termo, porque inclui também novos métodos de rega, bem como numerosas outras tec- nologias, tal como a proteção integrada e a utiliza- ção sustentável de pesticidas. A segunda via (que não é necessariamente alter- nativa à primeira) baseia-se na cópia e utilização de processos ecológicos – predação, parasitismo e doença, fixação simbiótica de azoto, micorrizas, combinações de culturas permanentes e anuais, como nos sistemas agroflorestais – para substituir inputs comprados de origem industrial (pesticidas, fertilizantes e energia). É possível conceber técnicas que potenciam as duas vias. Por exemplo, a utilização dos “níveis eco- nómicos de ataque” como critério para a realiza- ção de tratamentos com pesticidas, substitui, na produção integrada, os tratamentos por “calendá- rio” (i.e. independentes da verificação do nível de ataque) característicos do modelo químico-mecânico. Os níveis económicos de ataque implicam não tratar a não ser quando o nível de ataque da praga permita prever que o custo de não tratar, em termos de perda de produção, vai ultrapas- sar o custo do tratamento. Esta técnica permite, simul- taneamente, aumentar a eficiência do input pesti- cida, aplicando-o de forma mais criteriosa (primeira via), e, pelo facto de agre- dir menos as populações de auxiliares predadores e parasitoides (frequente- mente mais vulneráveis ao pesticida do que a praga), potencia os processos ecológicos que, de forma gratuita, fazem o mesmo trabalho que o pesticida – existindo, portanto, também uma lógica de substi- tuição de inputs por processos ecológicos (segunda via). A primeira via (eficiência no uso de inputs atra- vés de uma aplicação mais precisa ou criteriosa) depende sobretudo das novas tecnologias da infor- mação, incluindo os sistemas de informação geo- gráfica (SIG), bem como as tecnologias de sensores e de deteção remota. A segunda via (substituição de inputs por processos ecológicos) assenta num melhor conhecimento da forma como os agroecos- Existem pelo menos duas vias estratégicas para a transição de modelo tecnológico na agricultura que podemos hoje antever e que podem conduzir- nos ao desligamento do crescimento da produção por hectare face aos níveis de utilização de inputs por hectare. A primeira destas vias baseia-se no aumento da eficiência na utilização dos inputs, por aplicação dos mesmos de um modo mais preciso, no tempo e no espaço – o que é referido como agricultura de precisão […] A segunda via (que não é necessariamente alternativa à primeira) baseia-se na cópia e utilização de processos ecológicos […] para substituir inputs comprados de origem industrial.

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