90 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 29 DEZEMBRO 2023 – Indústria agroalimentar 6.1. Agricultura e pecuária Em relação à primeira linha estratégica, foram avaliadas as potencialidades produtivas das várias regiões de Trás-os-Montes. Esta região tem microclimas muito diferentes, o que obriga a encarar diversas soluções técnicas para cada um deles. Foram ainda avaliadas as suas potencialidades face a novos produtos, analisando-se as necessidades imediatas e futuras dos mercados, nacional e estrangeiros. Para isso, na total ausência de técnicos na região, obteve-se a colaboração de técnicos sediados nas diversas Juntas Nacionais (dos Produtos Pecuários, das Frutas, do Azeite, de Colonização Interna, ) e nas diferentes Direções Gerais (de Agricultura, dos Serviços Hidráulicos, de Pecuária, …) e também de técnicos reputados na academia e na Corporação da Lavoura. Foi assim possível suprir, numa primeira fase, a carência absoluta de técnicos neste interior norte, técnicos esses que começaram a surgir, diria que quase a conta-gotas, a partir dos anos de 1963 e 1964, quando arrancaram as primeiras fábricas. Pecuária Académicos reputados e estrangeiros cooperaram vários anos para chegar a uma solução de aumento da produção de ovinos em sistema intensivo, carne e leite. Diversos outros especialistas na produção de suínos desenvolveram também uma proposta de suinicultura em ciclo aberto. Uma e outra eram baseadas no associativismo agrícola (ovinos) ou na instalação de pequenas unidades de porcos de engorda, com cem animais cada um; qualquer agricultor com área suficiente para estas unidades de suinicultura podia candidatar-se a uma ou mais unidades. Já no caso dos ovinos, procurou-se aumentar a produção de leite de ovelha para queijo e de carne de cordeiro. Tentava-se assim obviar a trágica falta de mão de obra, devida à emigração. Assim, os criadores de uma determinada região constituíam uma associação de criadores, disponibilizando uma determinada área para produção de forragens/pastoreio; os seus animais, se os tinham, eram disponibilizados à associação e contabilizados como ativo. Num e noutro caso, a Federação construía os estábulos, os silos para forragens, a ordenha mecânica, fornecia as rações e disponibilizava o apoio médico veterinário. Construíram-se habitações para os pastores. Os animais eram destinados à produção de leite, mas com um cruzamento industrial para a produção de carne. Na entrega dos porcos, borregos ou leite, eram feitos os acertos de amortização do financiamento e dos fatores de produção fornecidos. Os criadores sabiam à partida quais os preços de venda, mediante a assinatura de contratos-programa. Agricultura A vertente agrícola do fomento incluiu, por um lado, o aproveitamento de matérias-primas já existentes, e tratadas desde o início como culturas tradicionais (azeitona, vinho, pêssego, castanhas, nozes, amêndoa, etc.), bem como outras, quase silváticas, mas em quantidades abundantes, como os figos e as amoras de silva. As culturas tradicionais foram objeto de avaliação de dispersão pela região, de variedades e de potenciais produtos derivados industrializáveis. A acrescentar a estas, foram identificadas novas produções, frutícolas e hortícolas, nomeadamente tomate, pimento, espargo, ervilha, cereja, maçã e pera, entre outras. Todas elas foram previstas para o consumo em fresco, pela rentabilização em preço, mas também, quando em excesso, passíveis, nos seus aspetos funcionais, de serem industrializadas. As restantes, figos e amoras de silva, foram complementos mistos, entre a utilidade social e a vantagem económica. Na realidade, a região possuía, por exemplo, dezenas de milhares de figueiras sem outra utilidade que não fosse o autoconsumo e a secagem do figo, também para autoconsumo. O advento de um sistema comercial permitiu a sua secagem industrial, ou a sua destilação para produção de álcool, o que imediatamente aumentou as receitas dos produtores. Chegavam a entrar no Complexo dezenas de toneladas de
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