Cultivar_29

74 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 29 DEZEMBRO 2023 – Indústria agroalimentar a globalização traz oportunidades, mas também a obrigação de avançar tecnologicamente para poder competir com países em vias de desenvolvimento. Desta forma, a solidificação da indústria 3.0 é imprescindível e a passagem para a indústria 4.0 é obrigatória a curto prazo. 5. Escassez A escassez de mão de obra técnica em Portugal e a escassez de matérias-primas são hoje desafios diários na indústria conserveira. A indústria alimentar depende muitas vezes do trabalho manual e técnico para diversas tarefas ao longo de todo o processo produtivo. A escassez destes recursos gera mais ineficiência na fábrica e diminui a competitividade face a outros países. Assim sendo, e tendo em conta a falta de cursos técnicos em Portugal, na nossa empresa desenvolvemos programas internos de formação técnica de forma colmatar a dificuldade com que nos deparamos na oferta. É por isso essencial um trabalho mais próximo entre as entidades de ensino técnico e a indústria para que juntos possam adequar a oferta à procura. Por outro lado, os sucessivos aumentos de preço nos pescados, no azeite, no alumínio, no cartão e na energia, devido à escassez dos materiais, levaram à diversificação do negócio. No caso da Poveira, levou à criação de uma fábrica própria na área de metalurgia que servirá também como fornecedora ao setor alimentar. Além disso, o investimento massivo em sistemas de gestão de energia e em painéis fotovoltaicos representaram também uma prioridade. 6. Dimensão do setor / Dificuldades na competitividade global O setor conserveiro em Portugal é composto por fábricas de pequena dimensão e produção, quando comparado com os principais players mundiais, nomeadamente com a nossa vizinha Espanha. Para que tenhamos uma ideia, qualquer um dos três principais players espanhóis produz mais do que todo o setor conserveiro nacional junto. Quando pensamos que fábricas que produzem 50 mil unidades diárias têm de competir nos mesmos mercados, e com os mesmos produtos, com outras que produzem 4 milhões de unidades, podemos concluir quanto à disparidade nos preços das principais matérias-primas necessárias ao setor. Para isto muito contribuiu um certo adormecimento da indústria conserveira nacional, nomeadamente nas últimas décadas do século XX: não se soube adaptar às novas tendências de consumo da altura, em que a conserva de atum representou, e ainda representa atualmente, 80% do total de consumo de peixe em conserva. De facto, todo o setor industrial continuou durantes décadas e décadas a apostar nas principais matérias-primas dos nossos mares, a sardinha e a cavala, deparando-se depois com enormes problemas de competitividade, e mercado, com as alterações também surgidas no âmbito da entrada de Portugal para a então Comunidade Económica Europeia, nomeadamente por ficarmos abrangidos pelos acordos europeus com países terceiros, como, por exemplo, Marrocos. Nos finais dos anos 90 e princípios do novo século, a indústria conserveira passou por enormes dificuldades, porquanto surgiram novos concorrentes a nível global para os mesmos mercados em que até aí operávamos, com preços mais competitivos por serem formados em economias com custos laborais muito inferiores aos da nossa. Acresceram também as dificuldades sentidas no preço das principais matérias-primas, por anos e anos de sobrepesca nos nossos mares, com pouca regulamentação e controle. 7. Alterações da tipologia do mercado; Private label / Marcas de fabricante – desafios As marcas brancas ou marcas da distribuição (MDD) surgiram na década de 80 e não mais pararam de crescer. Atualmente, representam cerca de 50% do total do mercado com tendências de crescimento. Os ganhos de popularidade são sobretudo devidos a

RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==