O Agroalimentar em três tempos – Passado, presente e futuro da fileira em Portugal 19 O exemplo da proteína é paradigmático. As proteínas são macronutrientes essenciais na nutrição humana, tendo em vista dietas equilibradas e saudáveis e, embora a principal fonte de proteína para os humanos seja a carne e outros produtos de origem animal, o facto é que a alimentação animal é deficitária em fontes de proteína, sobretudo de alto teor proteico e ainda mais se tivermos em conta a alimentação de suínos e aves. É, assim, importante reduzir a dependência da União Europeia nesta matéria e, como tal, todas as fontes devem ser consideradas – algas, insetos, coprodutos da indústria alimentar ou dos biocombustíveis –, para além da promoção das proteaginosas. Até que a Plena Economia Circular possa ser uma realidade na União Europeia, convém assumir que a nossa dependência, nomeadamente da soja, vai demorar alguns anos a resolver – segundo a Comissão, iremos necessitar ainda de 17,5 milhões de toneladas de oleaginosas em 2032 –, pelo que é muito relevante não criar entraves legais ou barreiras técnicas às importações. O último relatório da Comissão sobre as perspetivas de médio prazo 2022/20325 prevê uma expansão das áreas de soja e de proteaginosas até 825 000 ha na próxima década na União Europeia, com a soja a aumentar 33% e as leguminosas 55%, situando-se nas 6,7 milhões de toneladas, dos quais, 3,9 milhões serão destinadas à alimentação animal e 2,6 milhões de tons ao consumo humano. No que respeita a perspetivas sobre o futuro, não podemos deixar de referir que outras análises apontam para um menor consumo de carne de bovino e suíno (-7,8% e -4,0%, respetivamente), com a carne 5 https://agriculture.ec.europa.eu/system/files/2023-04/agricultural-outlook-2022-report_en_0.pdf 6 https://futuros.gob.es/en/our-work/OSA de aves em alta até 2032 (+3,0%). O consumo de alternativas vegetais e sobretudo a carne de laboratório tenderão a ser marginais, pelo menos, num futuro próximo, apesar de as dietas vegetarianas, veganas e flexitarianas serem tendências em crescimento, em particular junto dos mais jovens. O consumo de vegetais, sobretudo frutas e hortícolas, deverá aumentar seguramente. As preocupações com as dietas saudáveis e sustentáveis serão cada vez mais uma realidade, mas convém que a alimentação saudável tenha em conta os estilos de vida, também saudáveis, dietas equilibradas e avaliações nutricionais baseadas em critérios científicos e não na diabolização de alimentos ou ingredientes, como acontece atualmente com o sal, as gorduras e o açúcar. No horizonte do futuro está, também, como já referimos, as ameaças do protecionismo que são um sério risco em muitas geografias. Por isso, a visão sobre a Estratégia de Autonomia Aberta6, apresentada pela presidência espanhola da União Europeia e cuja discussão irá decorrer, certamente, nos próximos meses, representa uma resposta aos enormes desafios que temos pela frente. Responder às tendências e exigências dos consumidores, da opinião pública, aos desafios societais, mas criando condições em Portugal para a afirmação do Agroalimentar tem de ser um desígnio de todos e assumido pelo próximo governo. Com eleições legislativas em março, europeias em junho, um novo Governo em Portugal em abril e uma … convém que a alimentação saudável tenha em conta os estilos de vida, também saudáveis, dietas equilibradas e avaliações nutricionais baseadas em critérios científicos e não na diabolização de alimentos ou ingredientes… Responder às tendências e exigências dos consumidores, da opinião pública, aos desafios societais, mas criando condições em Portugal para a afirmação do Agroalimentar tem de ser um desígnio de todos e assumido pelo próximo governo.
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