Cultivar_29

O Agroalimentar em três tempos – Passado, presente e futuro da fileira em Portugal 17 A este propósito convém, então, relembrar que a própria FAO ainda recentemente declarou3 que não devemos sacrificar a segurança alimentar em nome da sustentabilidade. É também essa, claramente, a nossa opinião. E em Portugal, como está o nosso futuro? A Indústria da Alimentação e Bebidas representa um volume de negócios na ordem dos 22,4 mil milhões de euros, ou seja, 17,6% da indústria transformadora. É, inegavelmente, o grande cliente da agricultura e motor do seu desenvolvimento. São evidentes as sinergias entre ambos e a evolução mútua, cada vez mais em termos de fileira ou através de integrações empresariais. A agricultura é, também, fornecedora de consumos intermédios de alguns outros subsetores, destacando-se neles os alimentos para animais, que têm um peso de 49,3% do total dos inputs das explorações agropecuárias. A competitividade da denominada “indústria pecuária” – a produção de carne, leite, ovos e aquicultura – depende, como se constatou no início da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, dos preços das matérias-primas e da evolução dos preços dos alimentos compostos para animais. Porque a cadeia alimentar começa verdadeiramente no solo, importa, pois, conter os custos de produção, alimentos para animais, fertilizantes, e fitofármacos, apoiar estes setores, mas, sobretudo, os produtores, com ajudas robustas e previsibilidade. Só assim é possível manter os preços da alimentação viáveis para produtores e razoáveis para consumidores. Pese embora o setor agroalimentar tenha sido assumido como uma área de refúgio durante o período da troika, uma das conclusões que se podem retirar num estudo recente do GPP, e sobretudo nas séries 3 https://www.euractiv.com/section/agriculture-food/news/fao-official-eu-shouldnt-sacrifice-food-output-in-sustainabilitys-name/ longas, é a de que o seu crescimento tem sido relativamente anémico. Existe ainda um déficit elevado, na ordem dos 5 mil milhões de euros. Nada disto é novidade, apesar da excelência de algumas empresas agrícolas e agroalimentares, apesar da melhoria nos sistemas de controlo de qualidade, da eficiência e da implementação das mais modernas tecnologias. Ainda é curto. Parece que não descolamos. Mesmo quando aumentamos o VAB (Valor Acrescentado Bruto) o que aconteceu na sequência da guerra, tal ficou a dever-se aos aumentos de preços via mercado (e custos) e não a produtos de maior valor acrescentado, diferenciadores ou inovadores. Só quando incluímos a componente florestal é que o déficit diminui significativamente, mas subsiste o problema na indústria alimentar. É este o contexto em que trabalhamos e sabemos que os próximos anos não vão ser fáceis, pelo contrário. Nem do lado da oferta – com tantas restrições em termos de regulação e de natureza ambiental, com mais custos –, nem do lado da procura – com consumidores claramente com menor poder de compra. Nos casos específicos da alimentação animal e da moagem, fornecedores de bens essenciais, é sabido que uma componente relevante das importações são os cereais e as oleaginosas, o que, à data de hoje, contribui para agravar o déficit, mas a solução para o conter não pode passar pela redução da pecuária, ou do consumo de pão e derivados. Temos de criar condições para aumentar a produção agrícola e para aproximar a agricultura da indústria. Confrontamo-nos, igualmente, com problemas estruturais que se arrastam há décadas, em sucessivos governos: o licenciamento, os custos de contexto A Indústria da Alimentação e Bebidas… É, inegavelmente, o grande cliente da agricultura e motor do seu desenvolvimento. …mas o crescimento do setor agroalimentar tem sido relativamente anémico.

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