CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

“Aquilo que se descobre tem muito mais valor se for partilhado” 49 diversas certificações francesas, etc.). Esta tendência tem vindo a acentuar-se em resposta a uma certa massificação de grandes volumes na distribuição e até mesmo na produção: ” O grande mercado do biológico, mesmo na Europa, não está em empresas especializadas no biológico, ou seja, o cliente alemão quando compra não compra a uma empresa espe- cializada em biológico; compra à empresa que lhe vende convencional e pede-lhe também biológico .” Naturalmente, os pequenos produtores têm dificul- dade em dar resposta a estas exigências adicionais, que envolvem custos, dado o seu reduzido volume de produção. Nos últimos quinze anos, a Biofrade tem fomentado muito os contactos com os agricultores. A dimensão média dos 250 produtores que trabalham com a empresa é de 2,5 ha, e embora haja alguns com20-30 ha, muitos há que não têm sequer 1 ha (podendo produzir ao longo do ano até 40 produtos diferen- tes). Nesses contactos com os seus próprios produ- tores e com outros que tentam iniciar a atividade, Henrique Gomes e os seus irmãos procuram fazer uma pedagogia das dificuldades, dos desafios e das especificidades (e.g. variedades novas; biológico não é Resíduo Zero, etc.), mas também das vantagens da adesão ao MPB, sublinhando sempre que a conver- são não é um processo imediato. É preciso salientar ainda que essa noção que por vezes hoje existe de que MPB é igual a Resíduo Zero não corresponde à realidade, do mesmo modo que não se pode produzir biológico em vaso ou emhidro- ponia. A agricultura biológica não existe sem solo e exige o cumprimento de um caderno de encargos rigoroso de boas práticas e sustentabilidade. Meta dos 25% Relativamente à questão de saber se, a nível regional, na Lourinhã ou mesmo na região do Oeste, será pos- sível um grande crescimento da área em MPB, Hen- rique Gomes refere que não há muitos que o acom- panhem no seu concelho e que a meta dos 25% em agricultura biológica preconizada pela UE para 2030 poderá ser um pouco irrealista. A questão da escala é essencial: se se for muito pequeno, não se consegue responder à procura, se se for muito grande, corre-se o risco de desvirtuar o processo. “ O nosso pouco às vezes é muito, porque se eu tenho pouca quantidade não a consigo oferecer à grande distribuição e o resto do mercado especiali- zado não absorve tudo, mas se eu ofereço à grande distribuição, já não chega para nada, muitas vezes no primeiro pedido levam tudo .” Além disso, um agricultor com menos de um hec- tare e dezenas de produções distintas não terá uma escala mínima em nenhuma dessas produções. No entanto, tem havido melhorias neste aspeto e parece haver mais interessados em aderir, apesar das reti- cências: “ As pessoas já se esqueceram que é possível produzir de modo diferente e sem o auxílio de tantos inputs” (pesticidas, herbicidas, etc.) . “Nós temos demonstrado que é possível. ” Ao tentar convencer os agricultores a aderiremà agri- cultura biológica, é preciso transmitir a ideia de que a rentabilidade não pode ser vista apenas com base na produtividade (toneladas por hectare), mas antes na diferença entre o “deve” e o “haver”, entre o que se investe e que se obtém. “ Se conseguimos produzir menos toneladas, mas sem fazer inputs”, isso pode ser mais rentável. No entanto, as dificuldades com o aumento da área estão também relacionadas com esta questão da produtividade. O empresário dá o exemplo de uma exploração de framboesa que, mesmo sabendo que a produtividade da planta em biológico seria sempre metade da obtida em agricultura convencional, nem ao fim de cinco anos conseguiu atingir esse valor. E o preço em biológico não é o dobro do preço em convencional. A questão essencial do preço, onde há agora um objetivo de aproximação ao preço da pro- dução convencional para atrair mais consumidores, poderá também dissuadir potenciais candidatos ao MPB. A viabilidade económica do negócio (rentabilidade, produtividade, custos de produção, etc.) está assim naturalmente sempre presente e, nas intervenções junto dos seus produtores ou de potenciais novos

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