CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

Agricultura biológica – desafios e respostas da investigação científica 21 de produção com baixa produtividade, incapaz de assegurar a produção dos alimentos necessários a uma população mundial em crescimento. Embora existam argumentos que sustentam esta ideia e outros que a mitigam, é importante realçar que os aumentos espetaculares de produtividade da agri- cultura convencional resultaram em grande parte do financiamento público à investigação científica a ela dirigida e que ultrapassa em larga escala aquele que tem sido atribuído à investigação aplicada à AB na UE (Baret et al ., 2015). A investigação é um elemen- to-chave no desenvolvimento de sistemas e modos de produção alternativos, pelo que o estudo de tec- nologias específicas e do enquadramento socioeco- nómico da AB poderá ter um efeito significativo no seu desempenho, tal como aconteceu no passado com a agricultura convencional.  No entanto, dada a grande diversidade agroecológica em que a AB se insere e a sua estreita dependência dos ecossistemas, as soluções técnicas em “formato único” dificilmente produzirão bons resultados. Mais do que na agricultura conven- cional, a replicação das inovações tem de ser alvo de intenso escrutínio, investiga- ção e validação de resultados.  Acresce ainda que os efeitos das alterações introduzidas na AB e noutros modos de produção sustentáveis não são visíveis no curto prazo já que, por definição, o fator tempo é crucial na avaliação da sustentabilidade. Este facto gera dificuldade na adaptação da investi- gação aos ciclos dos projetos que têm, normalmente, durações de três a cinco anos, não havendo garantias de continuidade. Por exemplo, o estudo do impacto das práti- cas culturais sobre a biodiver- sidade do solo, ou a avaliação do contributo de novas tipo- logias de sistemas agroflores- tais no rendimento dos agricultores exigem obser- vações ao longo de muitos anos que dificilmente se esgotam nos períodos de financiamento habituais.  É ainda de salientar que, tal como acontece na agricultura portuguesa em geral, as explorações de AB são predominantemente de pequena e média dimensão com um forte cariz familiar. Se se pretende que os agricultores que já praticam AB continuem a fazê-lo e que outros se convertam, a investigação deve contemplar projetos capazes de dar resposta às necessidades concretas deste tipo de agricultura. A investigação e a disseminação dos resultados é um fator crítico neste processo, já que, como demons- tram diversos estudos, o acesso à informação é um dos principais condicionan- tes da adesão dos produto- res (Genius et al ., 2003; Kau- fmann et al ., 2011; Läpple, 2010; Cukur, 2015; Sapbamre e Thammachai, 2021). A dificuldade, por parte dos agricultores, em optar pelo Modo de Produção Biológico (MPB) prende-se, entre outros aspetos, com a maior complexidade do sistema de produção, que obriga a um profundo conhecimento do ecossistema agrícola e de práticas culturais que aliem alguma intensificação produtiva com a conservação do solo, da água e da biodi- versidade.  Neste âmbito, é essencial a adoção de metodologias de investigação colaborativas, com a participação de atores de todos os níveis da cadeia de valor e de investigadores de diferentes áreas científicas (Agronomia, Ciências Naturais e do Ambiente, Ciências Sociais), que extravasem o domínio puramente científico para incluir as visões e preocu- pações dos agricultores e outros profissionais do setor. Esta abordagem sistémica, tal como referem Alrøe e Kris- Acresce ainda que os efeitos das alterações introduzidas na AB e noutros modos de produção sustentáveis não são visíveis no curto prazo já que, por definição, o fator tempo é crucial na avaliação da sustentabilidade. É ainda de salientar que, tal como acontece na agricultura portuguesa em geral, as explorações de AB são predominantemente de pequena e média dimensão com um forte cariz familiar. … é essencial a adoção de metodologias de investigação colaborativas, com a participação de atores de todos os níveis da cadeia de valor e de investigadores de diferentes áreas científicas.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw