cultivar_25_Investimento_agricultura

Não basta investir, é necessário ter uma ideia de investimento 87 modelo de pomar, os admoestavam sobre a neces- sidade de emitirem corretamente as faturas na feira semanal. Quantos teriam aderido a realizar investi- mentos e implementado esse novo modelo? Creio que o multiplicador keynesiano do investimento público teria sofrido uma quebra vertiginosa e hoje não teríamos um cluster frutícola no Oeste, antes uma agricultura de subsistência. Para complicar ainda mais o panorama, foram intro- duzidas novas regras a cumprir mesmo pelos proje- tos já aprovados. Convido a um momento kafkiano com base num caso real. Em regiões de minifúndio, um produtor chega a ter 10 pequenas parcelas. Para juntar uma parcela de 3 ha, pode ter necessidade de realizar 6 contratos de arrendamento. Como cada contrato tem datas diferentes, existe inevitavel- mente algum que não cumpre com a data requerida pelo Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP). Numa das parcelas, os herdeiros ainda não decidiram quem fica com ela, pelo que não conseguem negociar um novo contrato, embora continuem a cul- tivá-la. A casa da rega construída pelo seu avô, que na altura não pediu licença de construção, pois ninguém na década de 1970 pedia licença para construir uma casa de rega, está numa parte da parcela que tem um erro no registo. Parte das parcelas estão em Rede Agrí- cola Nacional (RAN), pelo que têm de pedir autorização para explorar em termos agrícolas uma parcela que é uma reserva agrícola. Ainda não vou a meio da história, mas é possível verificar a asfixiante teia burocrática que este produtor enfrenta. Serão noites e noites para resolver este imbróglio administrativo. E quando terá tempo e disposição para se dedicar a melhorar a produção, o que deveria ser o seu foco? A comple- xidade é multiplicada em regiões de minifúndio. Por isso digo que o excesso de burocracia é discrimina- tório. No período do ProDer, era fácil encontrar produto- res entusiasmados com a intenção de efetuar novos investimentos, introduzir novas variedades ou ins- talar pomares mais eficientes. Talvez seja por estes terem agora mais dez anos de idade, mas com a implementação do PDR2020 é relativamente fácil encontrar os mesmos produtores exasperados, ou mesmo revoltados, com o excesso de burocracia. E basta olhar para a história para ver os efeitos nocivos da revolta nas sociedades. O investimento por si só não produz alterações sig- nificativas. E quando vemos investimentos desgar- rados, feitos com modelos antigos de pomar, sem uma OP que lhe dê suporte, sem o promotor ter uma estrutura que lhe dê resiliência, sabemos que existe uma muito elevada probabilidade de insucesso. Um sócio da Frubaça conta a história de que do seu curso de jovem agricultor do início dos anos 90, só se mantêm na atividade os que já eram oriundos da atividade, dois. O aumento de produtividade em fruticultura que se tem vindo a verificar (Figura 1) não resulta de meros investimentos de substituição ou de modernização; resulta da adoção pelos produtores de novas for- mas de produção mais eficientes, de novas tecno- logias disruptivas, novos clones e novas variedades com características diferenciadoras, assentes numa Figura 1 – Produtividade dos frutos frescos em Portugal (kg/ha) Fonte: Produtividade das principais culturas agrícolas (kg/ ha) por Localização geográfica (Região agrária) e Espécie; Anual – INE, Estatísticas da produção vegetal

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw