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86 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 25 ABRIL 2022 – Investimento na agricultura poucos meses ouvia de um dirigente de uma OP o que ouvi de um agricultor há 30 anos: ou estamos juntos ou morremos . A ideia estratégica é a mesma, a escala é que é diferente. No passado, os produtores juntaram-se em OP, agora temos que colocar as OP a trabalhar em conjunto. O processo de adesão da Maçã de Alcobaça ao clube varietal internacional Candine é um bom exemplo de uma parceria colaborativa. Depois de várias tentati- vas, temos, pela primeira vez, um contrato com uma maçã do clube. Os produtores comprometeram-se a plantar 170 hectares de uma nova variedade, que será comercializada por uma única empresa, a Atlan- tic Apple, cujos sócios são a Maçã de Alcobaça e um conjunto de empresas da região. É ummarco impor- tante num processo de mudança no setor. Creio que a maioria das novas OP do Oeste foi criada até 2004. Por essa altura, o Oeste esteve alguns anos condicionado no acesso a apoios ao investimento na produção agrícola, no âmbito do Quadro Comu- nitário de Apoio 2000-2006, o que limitou muito a modernização dos pomares. Em 2007, é implemen- tado o Programa de Desenvolvimento Rural 2007- 2013 (ProDer), com uma lógica de estruturação dos apoios e de simplificação de processos. Além disso, na primeira fase, foi implementada uma medida de projetos conjuntos. Embora essa medida fosse de elevada complexidade e mais tarde tenha sido aban- donada, ela ajudou as centrais a mobilizarem os pro- dutores em investimentos articulados entre central e produção. Nesse processo de mobilização da produção, com o apoio do Programa Operacional, a Frubaça realizou uma ação de formação sobre inovação e qualidade, a qual incluiu uma visita técnica a Itália onde foi possível visitar pomares modelo, centros de inves- tigação e modernas centrais fruteiras. Com essa ação, conseguiu-se capacitar os produtores para a implementação de um modelo de pomar mais efi- ciente, baseado na utilização de plantas de melhor qualidade e no sistema de condução tall spindle . Este modelo de pomar tem um investimento supe- rior, mas tem maior produtividade e regularidade de produção. Dou este exemplo da Frubaça, mas sei que outras OP da região passaram por processos semelhantes. Na altura, efetuei uma análise económica a vários pomares, comparando o valor gerado entre a produ- ção de um pomar do modelo anterior, baseado na plantação de árvores de médio porte, com caracte- rísticas 3 ou 5+, ou seja, com 5 braças, com um custo aproximado de 3 euros por planta, com o moderno pomar tall spindle, onde se utilizam na plantação plantas 7+, ou seja, com mais de 7 braças, com um custo acima dos 4,9 euros. Em todos os casos anali- sados, a diferença de preço de venda por quilo entre a fruta dos dois modelos de pomar era de 0,2 euros. O ProDer permitiu assim juntar uma nova ideia de pomar, que requer um investimento mais elevado, mas é mais eficiente, a um sistema relativamente simplificado de apoio ao investimento, pelo que se conseguiu modernizar uma parte significativa da produção. Deste modo, o investimento em técnicos, em formação, em equipamentos inovadores, em análises e outros intangíveis proporcionado pelos Programas Operacionais tem sido determinante para alavancar os investimentos do ProDer e do PDR2020. Curiosamente, o PDR2020 veio mais tarde a consa- grar a limitação dos apoios ao valor de investimento equivalente ao modelo antigo, colocando o limite de 3 euros para o valor das plantas. Foi um retrocesso. O PDR2020 apoia investimento agrícola, mas incen- tiva o produtor a balizar-se por ummodelo antigo de pomar, menos eficiente. O que está em causa não é o valor do apoio em si, é a referência do valor. O que o PDR está a comunicar é que é suficiente e adequado fazer plantações com uma planta de 3 euros. Está a comunicar que concorda com um modelo de pomar menos eficiente. Pior ainda, em pouco tempo, os auditores passaram a prevalecer sobre os técnicos e a implementação do PDR2020 passou a fazer um levantamento exaustivo de todos os pormenores da complexa, por vezes contraditória e discriminatória, burocracia portu- guesa. Vamos tentar imaginar por um momento que as equipas de campo criadas por Vieira Natividade, em vez de capacitarem os agricultores para um novo
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