cultivar_25_Investimento_agricultura

Não basta investir, é necessário ter uma ideia de investimento 85 Lembro-me ainda daminha reação quando, por volta de 1990, encontrei um vendedor ambulante junta da estação de Sete Rios a apregoar maçã de Alcobaça. E, ao longo da vida, quando visitava pessoas noutras regiões, ao dizer que era de Alcobaça, várias respon- deram-me ser esta uma terra de boa fruta. Mas essa ideia na mente dos consumidores de que a fruta de Alcobaça era mais saborosa, já conhecida na corte no século XIV, essa imagem distintiva criada ao longo de vários anos pelo cluster dinamizado por Vieira Natividade, estava cada vez mais em risco, com o batismo 2 em larga escala da fruta espanhola no iní- cio da década de 90. Por essa altura, o atual Diretor Regional do Ribatejo e Oeste enviou por fax para a Associação de Agriculto- res de Alcobaça várias folhas com informação sobre umas normas de certificação de produtos de qua- lidade e o contacto de uma engenheira, que ainda hoje anda por aí a sensibilizar o país para o assunto. Sem Internet, foi um desafio perceber como se criava uma Indicação Geográfica Protegida (IGP). Mas a Associação de Agricultores da Região de Alcobaça (AARA), a Cooperativa Agrícola e a sua Central Fru- teira, a Frubaça e o MercoAlcobaça uniram esforços e, com o apoio de técnicos da Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, em 1994 foi reconhe- cida a Maçã de Alcobaça IGP. Por essa altura foi tam- bém efetuada a primeira campanha de promoção da Maçã de Alcobaça. Consegui realizar várias pequenas candidaturas e conjugar tudo num plano de comunicação e pro- moção em pontos de venda; foi com esse plano que a Frubaça se tornou fornecedora de uma cadeia comercial e a Central Fruteira e o MercoAlcobaça se tornaram fornecedores de outra cadeia. O cluster da Maçã de Alcobaça acedeu assim à moderna dis- tribuição, iniciando o combate à maçã contrafeita. As normas públicas e o apoio do Ministério foram determinantes para que o setor privado tivesse ganho um novo instrumento, a Maçã de Alcobaça, o qual foi naquele momento igualmente determi- nante para que as empresas tivessem conseguido entrar na grande distribuição e ficar menos sujeitas 2 Fruta que é importada e indevidamente vendida como nacional. às flutuações da especulação com a fruta importada e batizada. Por essa altura, surgiu também a Pera Rocha do Oeste DOP (Designação de Origem Protegida), e o setor frutícola do Oeste iniciou um processo de res- truturação, com a criação de várias OP. A Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA) tem como sócios a maioria daquelas OP. É muito interessante verificar ainda outro fenómeno. Se em meados da década de 90 existiam meia dúzia de técnicos agrícolas em entidades privadas, atual- mente estão inscritos na secção de técnicos da Maçã de Alcobaça 41 técnicos de campo, a que acrescem os técnicos de qualidade e os técnicos dos Progra- mas Operacionais (PO). Muitos destes técnicos foram contratados com o apoio ao investimento do PO, outro instrumento de investimento. No universo dos produtos de qualidade, a produção de frutos qualificados é a que tem maior peso den- tro do seu setor, representando 16% da produção total de frutos. Quando se fala em DOP e IGP, mais depressa se fala em queijos do que em frutas, mas é no subsetor da fruta que esta qualificação tem mais peso. Se a década de 1990 foi a da criação de OP e a seguinte a da consolidação e criação de escala des- tas OP, a década mais recente e a próxima serão marcadas pelo desenvolvimento de parcerias entre estas entidades. A Maçã de Alcobaça tem sido fun- damental para juntar as OP do Oeste em processos colaborativos. Primeiro, numa perspetiva comercial, com a realização de ações de comunicação e de ven- das conjuntas da Maçã de Alcobaça, nomeadamente para exportação. E agora também na partilha de conhecimento entre os 41 técnicos de campo. Essa estruturação do setor que estamos a tentar efe- tuar, baseada em parcerias comerciais e em partilha de conhecimento, poderá ser uma importante ferra- menta para sobreviver perante o atual agravamento da situação económica. É paradigmático, mas há

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