cultivar_25_Investimento_agricultura

83 Não basta investir, é necessário ter uma ideia de investimento JOÃO CRISÓSTOMO Empresário frutícola e consultor Em vez de fazer uma análise económica sobre o investimento agrícola, vou recorrer à minha interpre- tação pessoal, fruto da experiência, sobre a forma como diversas abordagens públicas e privadas mol- daram o investimento em fruticultura e o impacto diferenciado dessas abordagens. Até à década de 1950, a produção de maçãs em Alcobaça era efetuada essencialmente com árvores dispersas, intercaladas no meio de vinhas. Perante o potencial da região para a fruticultura, na década de sessenta foi implementado o Plano de Fomento, comgrande impacto regional. O Eng.º JoaquimVieira Natividade implementou um plano integrado que preconizava a adoção de umnovomodelo de pomar, bem como ações de capacitação e de apoio ao inves- timento, para instalar pomares de maçã e revolucio- nar a produção deste fruto. As equipas daquela que viria a ser a Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade deram formação em fruticultura e acom- panhamento técnico na implantação dos pomares, forneceram as plantas e efetuaram os tratamentos fitossanitários no primeiro ano. Não existiu apoio pecuniário, mas houve um apoio público. E a forma como se produzia maçã foi substancialmente alte- rada. Muitos preferiram continuar a cultivar as suas cul- turas hortícolas e vinhas como habitualmente, mas outros viram neste plano uma oportunidade. Finan- ciaram-se junto de vizinhos, arrancaram pinhais e vinhas e implantaram pomares. Segundo a nomen- clatura de hoje, foi efetuada uma transferência de tecnologia para os produtores e o investimento teve umapoio público, o que levou àmobilização e empe- nho daqueles na introdução de um novo modelo de pomar, preconizado pelo Eng.º Natividade, tendo um forte efeito multiplicador do investimento público. O sucesso deste modelo de pomar, e das explora- ções frutícolas iniciais, foi depois copiado por outros agricultores, ou se preferirem, ocorreu um processo de disseminação de boas práticas agrícolas e de ges- tão. Uma ação muito keynesiana, portanto. O plano teve um impacto direto durante mais de vinte anos e criou a base de um cluster frutícola na região, que ainda hoje é a sustentabilidade da economia regio- nal. Ainda me lembro da novidade dos pomares con- duzidos em sistema de palmeta. Foi esta a génese de muitas explorações frutícolas, incluindo a dos meus pais. As explorações de maior dimensão foram construindo pequenas centrais fruteiras, as menores juntavam a sua produção na