cultivar_25_Investimento_agricultura

80 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 25 ABRIL 2022 – Investimento na agricultura nosas, esse equilíbrio da balança alimentar está lon- gínquo, no conjunto dos produtos do setor parece ser um objetivo possível. O deficit anual agrícola é de cerca de 2 mil milhões de euros, passando a 3,4 mil milhões se considerarmos o conjunto agroalimentar. Já o deficit silvícola é de cerca de 300 milhões, o que não deixa de ser estranho, dada a dimensão da área florestal. Este sim é anulado pelo desempenho da indústria de transformação. Temos muitas razões para uma aposta forte na agri- cultura. Um setor rentável a todos os níveis e com fatores de bloqueio identificados. Assistimos nos últimos anos a um importante esforço empresarial de investimento e modernização, mas há muito por fazer! Não vamos à Agroglobal ver o que há de novo, vamos para criar algo novo. Este slogan do evento traduz a ideia de que a partilha de conhecimento entre as empresas e entre as empresas e a comunidade cien- tífica aporta valor à fileira. São muitas as sinergias possíveis entre os diferentes elos da cadeia de produ- ção que podem gerar negócio e, consequentemente, preparar mais áreas do nosso país para produzir de forma viável. Essa relação deve ser incentivada de forma muito profissionalizada. É preciso valorizar a marca Portugal, destacando as características únicas dos nossos produtos e avançando na cadeia de valor. É preciso continuar na linha do que já se tem feito, no vinho, nas frutas e legumes, com resultados visíveis e aumento de exportações. O azeite tem mais caminho pela frente, mas não menos argumentos: é opinião geral que o olival mais moderno do mundo está em Portugal. É preciso também motivar organismos públicos nacionais e europeus para um desempenho rápido, construtivo e pragmático, porque isso é decisivo para uma atividade sujeita a uma pesada envolvente legislativa e burocrática, nem sempre adequada à realidade. É preciso acreditar nos agricultores e nas suas organizações, que deram já provas suficientes do seu sentido de responsabilidade – não “puxar” no mesmo sentido constitui um grande desperdício de energia. É preciso defender e ordenar uma floresta produ- tiva sujeita a ataques injustificados e cujos produtos transformados têm um peso muito significativo nas exportações nacionais. Só os seus agentes podem empenhar-se na substituição e rentabilização de áreas que são uma bomba relógio e levar a cabo, jun- tamente com as autarquias, um trabalho de explo- ração conjunta de milhares de parcelas de pequena dimensão. Um trabalho difícil mas indispensável, pois falamos de uma área muito significativa do país. É preciso apoiar, como já referimos, a agricultura das zonas desfavorecidas, pois o valor do conjunto de funções que desempenham ultrapassa em muito os resultados económicos diretos. A água, porém, é o fator decisivo. Na região medi- terrânea, a rega é o denominador comum de uma agricultura moderna e eficiente. Se queremos alterar o desígnio de país deficitário, temos de aumentar a nossa área de regadio e, para isso, temos de aumen- tar as nossas reservas disponíveis para irrigação no período de primavera-verão. Não podemos resig- narmo-nos. Temos de ter um objetivo que mobilize o setor. Se duplicarmos a área de regadio, a nossa balança agrícola ficará seguramente muito perto do equilíbrio. Desde logo, podemos recuperar/melhorar muitos regadios existentes, conforme o estudo recente apre- sentado pela EDIA. Mas podemos ter objetivos mais ambiciosos, pois temos condições para isso – temos solos com qua- lidade suficiente. Apesar de predominantemente pobres, nomeadamente em matéria orgânica, podem produzir ao melhor nível se utilizarmos as modernas tecnologias de fertirrigação e drenagem. A água é um recurso renovável de que, felizmente, dispomos de forma excedentária. Arredondando números oficiais, utilizamos em agricultura, indústria e abastecimento urbano cerca de 5 000 hm3/ano, sendo a nossa disponibilidade, somando escorrên- cias superficiais e águas subterrâneas, 56 000 hm3.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw