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Investimento e outras questões na gestão agrícola 79 aumentaremos as importações de países com regras menos restritivas. As emissões passarão, assim, a ocorrer noutras paragens, embora no mesmo pla- neta, e ainda agravadas pelas necessidades de trans- porte. Em última análise, convém não esquecer que é o consumidor que origina as emissões. Devemos ter atenção aos exageros da agroecologia, pois o consequente redesenho dos sistemas de pro- dução não é fácil de conciliar com a necessidade de produzirmos o dobro dos alimentos nos próximos 30 anos, para fazer face ao aumento da procura devido ao crescimento demográfico e ao aumento do poder de compra. E muito menos está de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de erradicar a fome no mundo, objetivo con- tratado por 193 estados membros da Organização das Nações Unidas (ONU). Indiscutíveis as preocupa- ções ambientais, mas sem esquecer o homem como figura central do ambiente. Critica-se o setor por não comunicar ou só comunicar para dentro. Não lhe deveria caber o ónus da prova da inocência ambiental. Quem critica deveria estar mais bem informado e não cavalgar demagogias bem aceites numa sociedade urbanizada que não conhece restrições na disponibilidade de alimentos. Hoje, mais do que nunca, não podemos dar isso por garantido. Mas não nos resta outro caminho: temos de conquis- tar a opinião pública, e os fazedores de opinião, para os impactos positivos do setor, de modo que o poder político se sinta pressionado para trilhar o caminho indicado por Alqueva. Não será esse o caminho da tão apregoada coesão territorial, num país com um interior cada vez mais despovoado, em que as pessoas, a riqueza e o inves- timento se concentram no litoral? Não está sobe- jamente provado que a agricultura é um motor de desenvolvimento das economias regionais? Que o é agora e o foi no passado? É conhecida a correlação entre o abandono agrícola e o aumento dos incêndios. Aumenta ano após ano o território não cultivado, entregue ao mato e a algu- mas árvores caducas, gerando uma carga combustí- vel que gera incêndios impossíveis de extinguir. Em 2017, em Pedrogão, tivemos o primeiro incêndio de sexta geração na Europa e outros se poderão seguir. Obviamente, nem todo o país poderá ser irrigado, mas muitas áreas precisam de apoio justificado, pois o custo ambiental do abandono é muito superior. As reservas de água que se possam constituir são a fórmula mais eficiente de combate às alterações cli- máticas e à correspondente redução de chuvas. Não podemos reivindicar água proveniente de reservas espanholas apenas para a ver passar, até porque as escorrências de água superficial do outro lado da fronteira são proporcionalmente inferiores às nossas. Simultaneamente, tratando-se de aproveitamentos de fins múltiplos, a energia potencial das massas de água acumuladas em reservas a constituir seria uma importante “bateria” de complemento às energias alternativas intermitentes. Com a energia na ordem do dia, não esqueçamos que a fotossíntese é o principal processo de transfor- mação de energia da biosfera e que as plantas são mais eficientes nessa transformação que os mais modernos painéis fotovoltaicos. Por isso, parece discutível a inutilização, para esse efeito, de solos de boa ou mesmo excelente aptidão agrícola, como as áreas hortícolas da península de Setúbal. Lembrando o arquiteto Antoni Gaudí, “ O grande livro, sempre aberto e que convém ler, é o da natureza. Todos os outros surgiram deste, com os equívocos e as interpretações do homem .” Não somos um país rico, embora por vezes nos esqueçamos disso. Apesar de todos os apoios comu- nitários recebidos desde 1986, Portugal apresenta índices económicos preocupantes na comparação com os seus parceiros da União. Não podemos, por isso, desperdiçar qualquer ativi- dade económica para a qual tenhamos potencial e muito menos uma atividade responsável pela pro- dução de bens de primeira necessidade. Os tempos atuais mostram que devemos aumentar os nossos níveis de autossuficiência alimentar. Se ao nível dos produtos de base ( commodities ), cereais e proteagi-
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