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78 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 25 ABRIL 2022 – Investimento na agricultura Uma obra enorme, com impacto numa área muito significativa, dando origem a uma radical transfor- mação dos sistemas de produção com uma rapidez invulgar. Numa primeira fase, parecia que seriam os cereais a aproveitar a água do maior lago da Europa. No entanto, rapidamente surgiram outras culturas, ou antes, culturas antigas com novas tecnologias, com maior valor acrescentado. Mobilizaram-se os agricultores, alguns, muitos, estrangeiros e novos investidores, criando uma dinâmica e uma espiral de crescimento com um ritmo muito elevado, que se transmitiu a outras zonas do país. Entretanto os serviços, o turismo, as empresas de transformação desenvolveram-se na região, os jovens têm emprego: uma rentabilidade global ímpar numa região que definhava. Porém, uma parte do Alqueva está por cumprir. O caminho da irrigação foi outra vez indicado e o impacto da eliminação do fator limitante principal foi, uma vez mais, evidente. Felizmente, as dúvidas sobre o enchimento da barragem dissiparam-se e o funcionamento desta obra complexa é excelente. Contudo, o projeto nacional parece não estar a ser abraçado: não se vislumbra na sociedade em geral um pouco de orgulho nesta obra estruturante e menos ainda a von- tade de fazer mais. Pelo contrário, diz-se que a paisa- gem é monótona, como se o trigo de outrora não o fosse – os méto- dos de trabalho da terra eram mais agressivos, com mobiliza- ções anuais, diminuição de maté- ria orgânica e consequente liber- tação de CO2, sendo, portanto, uma agricultura menos amiga do ambiente até no plano da biodi- versidade. Diz-se que gasta muita água, quando as plantas apenas utilizam este recurso renovável e o devolvem ao seu ciclo de forma purificada. E, mesmo assim, gasta muito menor quantidade que o “meu” milho, atropelado por esta transformação. O setor agrícola, em geral, é muito escrutinado no plano ambiental. Mais do que outras atividades com maiores impactos e que não produzem bens de primeira necessidade. Hoje na UE, são enormes as preocupações ambientais. Diz-se não aos trans- génicos, querem-se menos substâncias ativas para controlo de pragas e doenças, exigem-se motores menos poluentes, certificações e autorizações de todo o tipo, ecologização ( greening ), etc. Portugal está, a nível europeu, na primeira linha dessas preo- cupações. Todos estes requisitos tenderão a crescer via o Pacto Ecológico Europeu ( Green Deal ), uma estraté- gia oriunda de países com rendimentos per capita elevados: redução de adubos químicos, rotações obrigatórias, agricultura biológica “por decreto”, etc. Em consequência, haverá uma diminuição da capacidade competitiva dos produtores europeus e Figura 3 – Exemplos de inovação em tecnologias remotas: estação-base e dados de sensores

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