cultivar_25_Investimento_agricultura

14 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 25 ABRIL 2022 – Investimento na agricultura 2. Análise estatística da composição do investimento Apesar das dificuldades de contabilização referi- das, o aparelho estatístico vai registando alterações na composição do investimento mesmo que, eventualmente, subvalorizadas. Uma das alterações visíveis é o aumento do peso dos bens de propriedade intelectual no investimento nacional, que é atualmente cerca de 17%. 3 3 No que respeita ao investimento no conjunto da economia, verifica-se um predomínio da componente construção (55%) seguida das outras máquinas e equipamentos e sistemas de armamento (21%) e produtos de propriedade intelectual (17%), que tem vindo a ganhar peso desde 1995 (+11,8p.p.) à construção (-8,3p.p.) e ao equipamento de transporte (-3,1p.p.). Os recursos biológicos cultivados quase não têm expressão na FBCF da economia (1,2% em 2021). 4 O investimento agrícola, medido através da FBCF, é constituído por ativos agrícolas (assumiu-se que os ativos agrícolas correspondem aos ativos “recursos biológicos cultivados” nas contas nacionais), plantações e animais utilizados de forma repetida e contínua, e ativos não agrícolas, como máquinas e materiais (serão equivalentes aos ativos “Material de transporte” e “Outras máquinas e equipamento e sistemas de armamento” das contas nacionais), edifícios (similar ao ativo “Construção” das contas nacionais) e outra FBCF (equivalente ao ativo “Pro- dutos de propriedade intelectual” das contas nacionais, e.g. software ). As componentes commaior peso na estrutura de investimento são as máquinas e materiais, seguidas das plantações, perfazendo 69,2% do total. Note-se a grande oscilação da representatividade dos animais no período 1995-2020, com um mínimo em 2001 (1,6%) e um máximo em 1995 (19,4%). Contudo, a partir de 2000 verificou-se um ganho de peso dos animais e a perda de peso dos edifícios na FBCF. De notar que, no caso do Alentejo, predominam as máquinas e materiais (44,1%) seguidas das plantações (25%) na estrutura de investimento, verificando-se um ganho de peso dos edifícios e da outra FBCF em relação a 2010. Na região Norte também se destacam as plantações (50,3%) e as máquinas e materiais (24,1%), tendo ambas as componentes perdido peso para os animais e edifícios face a 2010. Na agricultura, não se observam novas componen- tes da FBCF 4 , mas a análise de custos da produção agrícola parece refletir quer os novos objetos do investimento quer as novas formas da sua aquisição. A estrutura de custos de pro- dução na agricultura permite estabelecer períodos cor- respondentes às diferentes fases do desenvolvimento do setor agrícola. Nos anos 80, deu-se um processo rápido de mecanização (com subida da relação capital/trabalhador), com as remunera- ções a perderem peso na estrutura (29% em 1980 e Noutro exemplo, agora relativo a despesas com bens intangíveis: a aquisição de uma campanha publicitária é um bem de capital ou CI? Para alémda questão de, provavelmente, os aparelhos estatísticos não a classificarempor delimitação a priori , ter-se-ia que perceber se o ativo que é a campanha permanece mais do que um ano. Não há respostas universais a esta questão, pois se o lançamento de uma marca ou logotipo são provavelmente duradouros (continuam a acrescentar valor aos bens por um período longo), uma promoção de um desconto pontual pode ter efeitos somente num ano económico. De ummodo geral, o capital humano não é contabilizado. Outra questão que importa reter é a forma de realização da despesa, incluindo a de investimento material clássico (carros, edifícios, máquinas). Estes bens podem ser objeto de partilha por aluguer ou aquisição conjunta e isso tem repercussões em termos contabilísticos. As análises devem, pois, ter isso em conta. Por exemplo, numa operação de aluguer, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) de quem a realiza é afetado (pois é deduzido o CI, o que não aconteceria em caso de compra), mas o Valor Acrescentado Líquido (VAL) não é, partindo do princípio de que não há poupança (amortização = valor do aluguer registado como CI). No entanto, como o investimento líquido é quase sempre arredado das análises, esta é uma questão relevante, sendo-o ainda mais quando o sistema de aquisição de serviços conduz a poupanças, o que é a norma. O facto de se deixar quase sempre de fora o investimento líquido e o produto líquido obriga a que se tenha em atenção esta mudança: se um operador adquirir um bem de FBCF isso não afeta o VAB, mas se o alugar reduz o VAB. A estrutura de custos de produção na agricultura permite estabelecer períodos correspondentes às diferentes fases do desenvolvimento do setor agrícola. Nos anos 80, deu-se um processo rápido de mecanização…

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw