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A produção animal e o desafio da sustentabilidade 65 CO 2 e CH 4 em animais nas condições naturais de exploração ecujos resultados são reconhecidos pela comunidade científica, a par dos que se obtêmcoma utilização de câmaras respiratórias ou com a técnica do marcador hexafloureto de enxofre (SF 6 ) [12]. Gestão de estrumes/efluentes de pecuária As emissões de metano por estrumes ocorrem por decomposição da matéria orgânica existente, duran- te o armazenamento ou tratamento, em ambientes anaeróbicos, pela ação de bactérias metanogénicas. A quantidade emitida depende principalmente da existência de condições anaeróbias, durante o arma- zenamento do estrume, que promovam a atividade daqueles microrganismos. De acordo com a origem do estrume por espécie, a maior parte das emissões resulta de efluentes de suínos (57,5%) e de estrumes de bovinos (30,7% - 21,2% bovinos de leite e 9,48% bovinos de carne) [1]. Parte do azoto do estrume (fezes ou urinas), é emi- tida como óxido nitroso (N 2 O) durante o respetivo maneio ou durante o armazenamento, antes da apli- cação ao solo ou como consequência dos processos de nitrificação-desnitrificação que afetam o azoto amoniacal. As emissões de amoníaco dos chorumes decorrem, principalmente, da degradação da urina. Após excreção, a ureia da urina é rapidamente de- gradada e convertida em compostos azotados (NH 3 e NH 4 + ) com impacto ambiental negativo. As emis- sões de NH 3 resultantes da valorização agrícola dos efluentes pecuários constituem, à data, uma parte significativa do total de emissões deste gás do setor agrícola, tornando-se, assim, necessário utilizar téc- nicas e sistemas de baixas emissões, associados a sistemas de aplicação a baixa pressão, tendentes a minimizar o correspondente impacto ambiental ne- gativo [13]. As estratégias de gestão de estrumes para redução das emissões passam por estratégias alimentares/ nutricionais relacionadas com uma alimentação de precisão (adaptação do fornecimento de alimento/ 1 Carvão vegetal utilizado como corretor do solo (com origem no inglês bio- + charcoal , carvão vegetal). nutrientes às necessidades dos animais nos diferen- tes tipos e fasesdeprodução) associadaaumaumen- to da eficiência digestiva (adição de fatores exóge- nos na dieta, tais como enzimas), para redução quer dos níveis de excreção de nutrientes particulares (p. ex. compostos azotados) quer de matéria orgânica. A jusante do sistema de produção estaremos perante estratégias de valorização dos estrumes/efluentes de pecuária, algumas delas estudadas no âmbi- to do Grupo Operacional GoEfluentes – Efluentes de pecuária (https://projects.iniav.pt/goefluentes/) , coordenado pelo INIAV. A abordagem é a de mitiga- ção e de valorização dos fluxos gerados na atividade agropecuária, considerando-os como uma recurso a incluir nas unidades de produção animal, agrícola e florestal, num cenário de Economia Circular e de Resíduo Zero. As estratégias de valorização são abrangentes, indo desde a compostagem, a valorização agronómica, a digestão anaeróbia, algumas com inovação de pro- cessos e de produtos, nomeadamente o tratamento primário com biochar 1 , para redução das emissões de GEE, em particular de N 2 O, nos locais de armaze- namento, ou a biodegradação por larvas de Mosca Soldado Negro (com a qual após 48 horas os odo- res desaparecem). Ambos os processos têm como produto final um fertilizante orgânico de elevada qualidade e, no caso do processo de biodegradação, também as larvas para extração de óleo de inseto e de concentrado proteico. Outra das vias de valoriza- ção avaliadas foi a recuperação da bioenergia con- tida no chorume recorrendo a digestão anaeróbia, procurando-se a otimização do processo por forma amaximizar a produção de Bio-CH 4 . Esta abordagem assume um papel preponderante nas medidas para alcançar a transição energética e neutralidade car- bónica no setor suinícola. Estas estratégias são exemplo de oportunidades, fo- cadas na Economia Circular que, para além dos im- pactos ambientais positivos, contribuem para a sus- tentabilidade económica do setor produtivo, para o qual a redução dos impactos ambientais negativos inerentes é atualmente uma prioridade.

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