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42 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 23 AGOSTO 2021 e degradação dos solos e causando desertificação nas regiões áridas (Asner et al . 2004, Eurostat 2018). Nos montados, observou-se uma correlação entre encabeçamentos mais elevados de gado bovino e o aumento da fragmentação, bemcomo entre encabe- çamentos mais elevados de ovinos e a diminuição da heterogeneidade espacial (Almeida et al . 2016). Os danos às jovens árvores e a interação mecânica do gado (sobretudo o bovino) com as árvores jovens e adultas estarão associados a esta correlação. Nos siste- mas silvo-pastoris, a adoção de intervalos de tempo e espaço adequados entre as atividades de pastoreio pode ser necessária à regeneração das árvores, enquanto se impede a invasão pela vege- tação arbustiva (Plieninger et al . 2015). O aumento excessivo de matos, em extensão e densidade, pode, como referido, levar ao aumento do risco de incêndio, mas coberturas moderadas são importantes para salvaguardar os habitats para várias espécies, podendo a sua eliminação desade- quada causar perdas de bio- diversidade, afetar processos hidrológicos e causar erosão do solo. Nos montados, o recrutamento dos sobreiros ocorre em níveis intermédios de cobertura arbustiva (40-60%), tendo as manchas arbustivas um efeito protetor das árvores contra a radiação direta e o pastoreio (Simões et al . 2016). Se, por um lado, a adoção de planos de gestão do pastoreio (com técnicas como o pastoreio rotacio- nal) é crescentemente reconhecida como impor- tante para a otimização do sistema de produção e a manutenção das pastagens em boas condições num maior período do ano, fomentando, portanto, a produtividade total da pastagem, por outro exige, com frequência, um maior emparcelamento. As ve- dações e cercas para a compartimentação das parce- las, dado o seu efeito de barreira, são reconhecidas como prejudiciais para a biodiversidade, podendo a adaptação das mesmas para a passagem segura da fauna silvestre reduzir este risco. Em Portugal, os sistemas de produção de gado são tipicamente combinações de um subsistema exten- sivo com um intensivo. No gado bovino, as vacas em aleitamento (fase vaca-vitelo) são mantidas extensi- vamente em pastagens com o vitelo. Normalmente, os vitelos são desmamados aos seis meses de idade e depois confinados, embora por vezes sejam submetidos a um período intermédio de criação antes do confinamen- to (Santos-Silva et al ., 2020). A fase vaca-vitelo é sempre a que mais contribui para a uti- lização e emissão de recursos na produção de carne bovina, compreendendo cerca de 63% de todos os impactos em vários tipos de sistemas de produção (Pelletier et al ., 2010). Adicionalmente, a acumulação de estrumes e chorumes que se observa no confinamento (mais propício a condições anaeró- bias) é propícia às emissões de GEE, nomeadamente de metano. O uso de concentrados para a alimentação do gado está di- retamente relacionado com a perda de biodiversidade e de carbono na vegetação e no solo resultante da desflorestação, em países com florestas primárias, causada pelas culturas destina- das à produção das matérias-primas destes concen- trados (como a soja). Os ingredientes das dietas de acabamento comuns em Portugal incluem cereais e oleaginosas importados. O aumento da incorpora- ção de ciclos curtos de forragens e subprodutos agrí- colas produzidos localmente resultará em ganhos ambientais, relacionados principalmente com ca- deias curtas de fornecimento de rações e economia circular. No entanto, os efeitos do aumento da fibra alimentar sobre a emissão entérica de metano (CH 4 ) precisam de ser avaliados. A otimização do processo de produção, nomeadamente dos períodos de per- manência do gado na pastagem e confinado pode, O aumento excessivo de matos pode levar ao aumento do risco de incêndio, mas coberturas moderadas são importantes para salvaguardar os habitats para várias espécies, podendo a sua eliminação desadequada causar perdas de biodiversidade, afetar processos hidrológicos e causar erosão do solo. Em Portugal, os sistemas de produção de gado são tipicamente combinações de um subsistema extensivo com um intensivo.
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