cultivar_22_Final_PT

Dinâmicas da utilização do solo pela agricultura 83 os maiores impactos ao nível da perda de SAU e do número de explorações. Na Beira Litoral, a produtivi- dade do total da economia é 5,3 vezes a da Agricul- tura, Silvicultura e Caça, evidenciando a dificuldade competitiva deste setor para competir com os outros na atração da mão-de-obra e investimento nestas zonas. Este conjunto de fatores evidenciados promoveram, tal como já se referiu, reestruturações significativas no tecido produtivo agrícola português, tanto no desaparecimento de um número elevado de explo- rações ao longo do tempo e consequente dificuldade de proceder à continuidade de utilização dos seus solos, como no reajustamento das atividades das explorações que se mantiveram e nos novos investi- mentos levados a cabo pelas novas explorações que foram entretanto criadas. 3. Conclusões O desenvolvimento económico e tecnológico dos territórios e as políticas públicas que o acompanham conduzem, de modo geral, a uma reafectação de recursos que implica a diminuição da importância relativa da atividade agrícola, mais acentuada em termos de variáveis económicas (como o produto e o emprego) do que físicas (como a ocupação do solo). A concorrência intrassetorial, mais intensa quando a agricultura portuguesa se integra em espaços eco- nómicos cada vez mais vastos, tem elementos que levam à concentração da propriedade. Estas são dinâmicas de longo prazo comuns aos países desenvolvidos e em desenvolvimento, que se verificaram igualmente em Portugal. No entanto, estas tendências foram regionalmente diversificadas em função dos tipos de solos e da estrutura histórica da propriedade. Onde existe estrutura fundiária com dimensão sufi- ciente para suportar um processo de extensificação, os solos mais pobres foram integrados na SAU com utilização na pastorícia. No Alentejo, verificou-se um aumento 16,4% de superfície agrícola utilizada entre 1989 e 2019. Já a Beira Litoral apresenta quebras na SAU de quase 44% e o Entre Douro e Minho e o Algarve quebras de cerca de 26%. Quando coexiste alguma dimensão fundiária e acesso à terra, capacidade empresarial e financeira, e disponibilidade de água para irrigação, surgem explorações com elevado potencial produtivo, com sistemas de produção modernos e tecnologica- mente diferenciados, onde o regadio é mais efi- caz, mas sujeitas a uma pressão social sobre o seu desempenho ambiental. Onde a estrutura fundiária da exploração não tem dimensão suficiente para suportar processos de extensificação ou modernização, a que se junta a dificuldade de os produtores se organizarem para concentrarem a oferta, levando a uma menor capa- cidade de gerar rendimentos aceitáveis, e não garan- tindo assim condições para assegurar uma sucessão geracional adequada, estas explorações saem da atividade produtiva. Note-se ainda que muitas des- tas explorações constituíam sistemas agroflorestais, onde a floresta estreme estava integrada na gestão da exploração. O seu desaparecimento como enti- dade gestora do território levou ao abandono de muitas áreas florestais.

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