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É tempo de nos concentrarmos no que importa 57 progresso humano. Reconhecendo a inadequação do PIB para captar muitas das dimensões fundamen- tais da vida humana, surgiu um forte movimento para ir “além do PIB” e dar mais atenção a outras medidas que pudessem traduzir as condições de vida das pessoas e a sua qualidade de vida. O debate e a investigação sobre medidas de bem-estar encon- traram expressão em diversas iniciativas. O relatório da Comissão para a Medição do Desempenho Eco- nómico e do Progresso Social (relatório Stiglitz-Sen- -Fitoussi), publicado em 2009, concluiu que era che- gado o momento “ de passar de uma ênfase na medição da produção económica para uma ênfase na medição do bem-estar das pessoas ”. Foi assim desenvolvido um signi- ficativo corpo de investigação e trabalho estatístico com o objetivo de fornecer métricas alternativas ou complementares do progresso humano. Mui- tos países desenvolveram quadros para a medição de vários aspetos do bem-estar, com o objetivo de compreender melhor a vida das pessoas aos níveis individual, familiar, comunitário e territorial. A nível internacional, outras iniciativas, como Beyond GDP (Além do PIB) da Comissão Europeia 2 , fizeram cres- cer o impulso de procurar – e utilizar – novas aborda- gens para medir a qualidade de vida e o progresso. Em 2011, a OCDE, que há mais de uma década está à frenteno trabalho internacional sobremedidas epolí- ticas relativas ao bem-estar, lançou um novo projeto para produzir melhores indicadores de progresso nas diferentes áreas que são importantes para o bem-es- tar das pessoas. A Better Life Initiative (Iniciativa para uma Vida Melhor) da OCDE adota uma abordagem mais vasta à definição de progresso social, concen- trando-se em onze dimensões do bem-estar indivi- dual: rendimento e riqueza; trabalho e qualidade do emprego; habitação; saúde; conhecimento e compe- tências; qualidade ambiental; bem-estar subjetivo; segurança; equilíbrio trabalho-vida pessoal; relações sociais e participação cívica. De acordo com as reco- mendações do relatório Stiglitz-Sen-Fitoussi, esta Iniciativa da OCDE: i) centra-se nos indivíduos e não 2 https://ec.europa.eu/environment/beyond_gdp/index_en.html na economia; ii) considera a distribuição de bem-es- tar na população conjuntamente com os resultados médios de cada país; iii) é multidimensional e iv) equilibra medidas objetivas e avaliações subjetivas. E realça também, o que é importante, a necessidade de avaliar tanto o bem-estar atual como o futuro, considerando este último em termos de uma série de recursos essenciais (económicos, sociais, naturais e de capital humano) que têm potencial para gerar bem-estar ao longo do tempo. A Better Life Initiative éumpro- jeto ambicioso, mas impor- tante, já que o seu objetivo é não só produzir informação sobre bem-estar, recorrendo aos melhores dados atual- mente disponíveis, mas também garantir que, com o tempo, as novas métricas são efetivamente utilizadas para apoiar a formulação de políticas. De facto, em última análise, o objetivo da maioria dos governos não é apenas fazer crescer a economia, mas melho- rar a vida dos cidadãos. E embora o crescimento do PIB seja crucial para alcançar vários objetivos impor- tantes, incluindo o financiamento adequado de pro- gramas sociais e investimentos públicos, deve ser sempre visto como um meio para atingir outros fins e não como um objetivo em si mesmo, reconhecen- do-se que a qualidade do crescimento económico importa tanto ou mais do que a sua quantidade. Da medição às políticas Uma das razões pelas quais a crise financeira de 2008 se transformou numa crise social e política foi que o facto de nos basearmos no PIB não só deu uma ima- gem falsa do estado geral do bem-estar, mas também contribuiu para a redução da confiança nos governos e nos especialistas, quando as pessoas viram que sua própria situação não estava a melhorar, apesar de, com base nos números do PIB, se ter declarado que estava a haver uma recuperação económica. Se tivéssemos utilizado métricas melhores, poderíamos ter percebido que os efeitos negativos da crise no bem-estar económico e na qualidade de vida das De facto, em última análise, o objetivo da maioria dos governos não é apenas fazer crescer a economia, mas melhorar a vida dos cidadãos.

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