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56 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 de petróleo aumentam o PIB, devido ao custo asso- ciado de limpeza e descontaminação, mas obvia- mente prejudicam o bem-estar geral. O PIB também deixa de fora muitos componentes que melhoram o bem-estar, mas não envolvem transações mone- tárias e, por consequência, ficam fora do mercado. Por exemplo, o ato de escolher vegetais numa horta e de os cozinhar para a família ou amigos não está incluído no PIB, enquanto a compra de uma refeição pré-preparada semelhante numa mercearia envolve uma troca de dinheiro e um subsequente aumento do PIB. Além disso, ao nível do indivíduo, o PIB não diz nada sobre a forma como os recursos económi- cos são distribuídos pelos grupos populacionais, nem sobre os muitos aspetos para lá das métricas monetárias que são importantes para o seu bem- -estar, como a necessidade de se sentir valorizado e respeitado pelos outros, em que medida as suas aspirações são cumpridas ou os cuidados e o afeto proporcionados por familiares e amigos próximos. Também nada diz sobre a sustentabilidade das ati- vidades económicas, em particular se elas ocorrem à custa do ambiente natural. De facto, o inventor do PIB, Simon Kuznets, alertou con- tra o seu uso indevido, salien- tando que ele é uma medida de produção e não de bem-estar. E, em 1968, num dos seus discursos mais famosos, o senador norte- -americano Robert Kennedy sublinhou eloquente- mente as limitações das métricas económicas tradi- cionais: “[O Produto Nacional Bruto] contabiliza a poluição do ar e a publicidade ao tabaco e as ambulâncias que limpam a carnificina nas nossas estradas… Contabi- liza a destruição das sequoias e a perda das nossas maravilhas naturais no caos de uma tempestade... E, no entanto, não permite ter em conta a saúde dos nossos filhos, a qualidade da sua educação ou a alegria das suas brincadeiras... Não mede nem a inteligência, nem a coragem, nem a sabedoria, nem a aprendizagem, nem a compaixão, nem a dedicação 1 Stagflation , no original, uma situação em que, ao contrário do habitual, coexistem estagnação económica e taxas de inflação elevadas. (N. da T.) ao nosso país. Mede tudo, em suma, exceto o que faz a vida valer a pena.” Quando, na década de 1970, surgiram as primei- ras críticas ao PIB no meio das preocupações com os limites ecológicos ao crescimento, foram feitas algumas tentativas para corrigir as suas falhas mais evidentes. No final dos anos 70, contudo, o interesse por abordagens alternativas ao PIB diminuiu, tendo outras questões passado a ocupar o centro das aten- ções, como a estagflação 1 ou o rápido aumento das taxas de desemprego. O interesse em alternativas ou complementos ao PIB foi sendo gradualmente retomado durante a década de 1990. A criação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) foi emblemática desta nova tendência, com- binando o PIB com medidas de saúde e de desem- penho educativo. Embora o IDH apenas sintetize uma quantidade limitada de informação e seja mais relevante para comparações entre países em desen- volvimento do que entre países mais avançados, continua a ser umdos poucos índices compostos que são regularmente compilados e amplamente divulgados para permitir comparações siste- máticas entre países. Em 1992, a Cimeira da Terra da ONU, que decorreu no Rio de Janeiro, trouxe a noção de Desenvolvimento Sustentável para o debate polí- tico e promoveu o uso de indicadores para o medir. A isto seguiu-se, já em 2015, a adoção da Agenda 2030 por todos os países da ONU que chegaram a acordo sobre 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, 169 metas e um conjunto de 232 indicadores. A crise financeira de 2008 deu um novo impulso à procura de medidas mais abrangentes de bem-estar e de progresso. A perceção de que a maré de cresci- mento económico do início dos anos 2000 não tinha chegado a todos e que os custos da crise tinham afetado desproporcionalmente aqueles que menos tinhambeneficiado da expansão económica anterior levaram a uma gradual reavaliação dos objetivos do [O Produto Nacional Bruto]... mede tudo... exceto o que faz a vida valer a pena
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