cultivar_22_Final_PT

Despovoamento em áreas rurais: entre a inevitabilidade e a capacidade de transformação 49 papel importante na regula- ção dessas interações, mas o seu papel é limitado. Na verdade, e como se explici- tou nas secções anteriores, a evolução histórica geo- graficamente diferenciada da demografia em espaços rurais depende de forma mais direta de opções societais e económicas do que de deci- sões políticas ou dos efeitos de políticas. Não se pretende com esta afirmação minimi- zar a importância da ação pública ou, o que seria eti- camente pior, desresponsabilizar o Estado. Pelo con- trário, este é um apelo para que se reconheça que a superação de problemas estruturais exige alterações estruturais. O despovoamento de uma grande exten- são de áreas rurais do país é o resultado inevitável dos modelos de crescimento prevalecentes em sucessivos períodos históricos. Entre a inevitabilidade como legado do passado e do presente e a transformação como imperativo para um Portu- gal com futuro, teremos de encontrar inteligência e visão para construir novas interde- pendências entre ecologia, sociedade e economia que permitam, através de uma combinação de mudanças rápidas e incrementais, percorrer caminhos de tran- sição que conduzam a novas geografias sustentáveis, umas demograficamente densas e dinâmicas, outras com escassa ocupação humana mas com ecossis- temas saudáveis e adaptados às novas condições biofísicas globais. As mudanças estruturais não se resolvem com voluntarismo e menos ainda com ingenuidade. As dinâmicas demográficas em áreas rurais resultam de interações complexas entre características biofísicas locais e genéricas e modelos socioeconómicos de desenvolvimento. Às políticas públicas caberá um papel importante na regulação dessas interações, mas o seu papel é limitado.

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