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43 Despovoamento em áreas rurais: entre a inevitabilidade e a capacidade de transformação JOÃO FERRÃO Geógrafo, Investigador do Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa O longo ciclo demográfico do Portugal rural tradicional: ascensão e queda Os espaços rurais nunca foram demograficamente homogéneos – em Portugal ou em qualquer outro país. Mas porquê? Na realidade, os motivos que expli- cam essa heterogeneidade não são necessariamente os mesmos ao longo dos tempos. É essa mudança que importa conhecer, ainda que de forma sumária, para melhor entendermos o presente e, sobretudo, perspetivarmos o que deve ser feito – ou, num registo mais modesto, identificar o que é possível fazer – visando um rural com futuro na sua diversidade. Para o longo período histó- rico que decorreu desde a invenção da agricultura até à Revolução Industrial, iniciada em finais do século XVIII em Inglaterra, a demografia dos diferentes espaços rurais pode ser basicamente enten- dida a partir das interdepen- dências que se vão gerando entre ecologia, por um lado, e comunidade e economia, pelo outro, mediatizadas por três elementos principais: relações de poder (político, religioso, civil), estrutura da propriedade e conhecimento técnico (agrícola, hidráulico, etc.). Nas sociedades rurais, dada a centralidade da agri- cultura e da silvo-pastorícia e a dependência destas atividades em relação a fatores biofísicos, a compo- nente ´ecologia` é essencial na definição dessas interdependências. É verdade que a história nos mostra abundantemente que não existe uma relação determinística entre ecologia, comunidade e econo- mia. Mas não é menos certo que nessas sociedades fatores como as condições climáticas, a orografia, a qualidade dos solos ou a disponibilidade de água contribuem de forma decisiva para delimitar as con- dições de possibilidade de ocupação e uso dos territó- rios rurais. A evolução do número de habitantes e da estrutura de povoamento das várias áreas rurais do país tendeu assim, durante séculos, a traduzir as condições eco- lógicas existentes e o modo como os três sistemas de mediação – poder(es), pro- … a demografia dos diferentes espaços rurais pode ser basicamente entendida a partir das interdependências que se vão gerando entre ecologia, por um lado, e comunidade e economia, pelo outro, mediatizadas por três elementos principais: relações de poder (político, religioso, civil), estrutura da propriedade e conhecimento técnico (agrícola, hidráulico, etc.).
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