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40 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 “Estamos a ser atingidos por uma nova doença de que alguns leitores podem ainda não ter ouvido o nome, mas de que vão ouvir falar nos próximos anos – a saber, o desemprego tecnológico . Isto significa desemprego resul- tante do facto de a nossa descoberta de meios de economizar a utilização de trabalho superar o ritmo a que conseguimos encontrar novas utilizações para o trabalho”. 21 No entanto, para Keynes, o aumento da eficiência técnica que no curto prazo tinha como consequên- cia o desemprego, significaria, no longo prazo “que a humanidade está a resolver o seu problema eco- nómico”, isto é, o problema da escassez. 22 Previa o autor: “daqui a cem anos, o nível de vida nos países progressistas será quatro a oito vezes mais elevado do que hoje”. 23 Assumindo uma sociedade que não fosse insaciável nos seus desejos e se contentasse com um nível de vida oito vezes superior ao de 1930, o produto necessário poderia ser obtido, repartindo o trabalho o máximo possível, se cada pessoa traba- lhasse três horas por dia quinze horas por semana. Dos cenários prospetivos à experiência histórica O que podemos esperar da evolução ou da revolu- ção tecnológica? À luz da ‘teoria da compensação’, acréscimo da produtividade do trabalho e destruição temporária de emprego em alguns setores, contra- balançado por crescimento do investimento noutros setores e a decorrente criação de emprego. Na pers- petiva marxista, desemprego económico estrutural (duradouro) e empobrecimento dos que têm e não têm emprego. Na antecipação otimista de Keynes, uma sociedade que resolveu o problema da escassez, se libertou das engrenagens da acumulação e divide o trabalho necessário em turnos moderados de três horas diárias por pessoa, cinco dias por semana. 21 Ibid ., p. 123 22 Ibid ., p. 123 23 Ibid ., p. 123 Mais de oitenta anos decorre- ram já depois de todos estes exercícios prospetivos. Que avaliação podemos fazer de cada um deles à luz da expe- riência vivida de quase um século? Comecemos pela teoria da compensação. O século XX, ao longo do qual ocorreram importantes vagas de inovação tecnológica, está longe de ter sido um período uniformemente caracterizado por níveis de desemprego reduzidos. Pelo contrário, períodos houve em que o desemprego nos países capitalistas mais desenvolvidos atingiu proporções massivas, nomeadamente entre 1929 e a Segunda Guerra Mundial. No entanto, esse desemprego esteve mais relacionado com crises que tiveram origem no setor financeiro, do que com as transformações tecnológi- cas ocorridas. Já no longo período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, os acréscimos de produtividade decorren- tes da inovação tecnológica foram acompanhados de incrementos proporcionais dos salários, da pro- cura e do produto, compatíveis com níveis relativa- mente baixos de desemprego. No entanto, algures em finais da década de 1970, o crescimento dos salários deixou de acompanhar o crescimento da produtividade, os salários reais estagnaram e as taxas de desemprego, embora sujei- tas a flutuações cíclicas, começaram a aumentar em tendência. As desigualdades de riqueza e rendi- mento acentuaram-se. Este cenário, que não sendo de ‘pauperização absoluta da classe operária’, se aproxima bastante da ‘pauperização relativa’, reme- te-nos para Marx e O Capital . Os 150 anos que medeiam entre os nossos dias e a publicação de O Capital , não obstante os episódios de desemprego massivo e a tendência mais recente para o agravamento das desigualdades e o aumento Mais de oitenta anos decorreram já depois de todos estes exercícios prospetivos. Que avaliação podemos fazer de cada um deles à luz da experiência vivida de quase um século?

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