cultivar_22_Final_PT

Tecnologia e desemprego: já aqui estivemos antes 39 da mecanização numa indústria pode ser acompa- nhada da criação de emprego noutras indústrias numa quantidade (superior ou inferior à quantidade de emprego destruída) que depende da evolução da duração da jornada de trabalho nas diferentes indústrias e do rácio entre as componentes do capi- tal constantes (aplicado em meios de produção) e variáveis (aplicado em salários). O capítulo 25 de O Capital é dedicado precisamente a analisar, em primeiro lugar, o efeito da acumulação de capital no emprego, em condições em que esta acumulação ocorreria mantendo-se constante a proporção entre a parte constante e a parte variável do capital (isto é, em que não existisse substituição de trabalho por máquinas) e, em segundo lugar, em condições mais próximas da experiência histórica em que a proporção do capital constante no capital total aumenta. Marx concluía que, caso a acumulação de capital se desenrolasse mantendo constante o rácio entres as partes constante e variável do capital (sem substitui- ção de trabalho por máquinas), a relação de depen- dência do trabalho relativamente ao capital poderia assumir uma forma “suportável”. O desemprego poderia não aumentar e os salários poderiam mesmo subir. No entanto, no caso mais realista do crescimento do capital ser acompanhado de substituição do trabalho por máquinas, a situação seria outra. Nessas condições: “Quanto maior é a riqueza social … a massa absoluta do proletariado e a produti- vidade do seu trabalho, tanto maior é o exército industrial 17 Ibid ., Cap. XXV, secção 4 18 Ibid ., Cap. XV, secção 6 19 Keynes, John M. (1930), “Perspectivas económicas para os nossos netos”, Keynes, John M. (2009), A Grande Crise e Outros Textos , Lisboa: Relógio de Água 20 Ibid ., p. 120 de reserva…Mas quantomaior é o exército industrial de reserva relativamente ao exército de trabalho no ativo, tanto maior é a massa consolidada de popu- lação excedentária, cuja miséria é inversamente proporcional ao seu tormento no trabalho. Quanto mais extensivas, finalmente, são as camadas pobres da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior será o pauperismo oficial. Esta é a lei geral absoluta da acumulação capitalista . Como outras leis, ela é modificada no modo como opera por muitas circunstâncias, de cuja análise não nos ocuparemos aqui.” 17 Em suma, para Marx, acumulação de capital com mecanização, desemprego (crescimento do exército industrial de reserva) e pauperização dos trabalha- dores estavam ligados numa cadeia de causalidade. As máquinas em si não eram “responsáveis pela ‘libertação’ dos trabalhadores dos seus meios de subsistência”. No entanto, as mesmas máquinas que representam “uma vitória do homem sobre as forças da Natureza, nas mãos do capital fazem do homem um escravo dessas forças.” 18 Perspetivas para os nossos netos Em1928,JohnMaynardKeynes dedicou várias conferências a um exercício prospetivo que viria a ser revisto e publicado em 1930, já em plena Grande Depressão, com o título Pers- petivas Económicas para os Nossos Netos 19 . Nesse ensaio, Keynes procurava libertar-se do pessimismo induzido pela “depressão que grassa pelo mundo” e “levantar voo para o futuro”. 20 Quais são as possi- bilidades económicas para os nossos netos? – perguntava. “Estamos a ser atingidos por uma nova doença de que alguns leitores podem ainda não ter ouvido o nome, mas de que vão ouvir falar nos próximos anos – a saber, o desemprego tecnológico. Isto significa desemprego resultante do facto de a nossa descoberta de meios de economizar a utilização de trabalho superar o ritmo a que conseguimos encontrar novas utilizações para o trabalho”

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