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36 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 na verdade, tirando os mais afoitos que se imagi- nam capazes de prever o imprevisível – a natureza e as consequências da adoção de tecnologias que ainda não foram testadas ou mesmo inventadas –, ninguém sabe ao certo. Não sabemos mesmo se estamos ou não perante uma vaga tecnológica comparável em consequências às experimen- tadas no passado, como as que decorreram da invenção da máquina a vapor, da ele- tricidade e do motor a com- bustão. Sabemos, no entanto, que não é a primeira vez que a inovação tecnológica e as consequências da adoção de novas tecnologias no emprego e no trabalho ocupam um lugar destacado no debate público e sabemos, também, que as ‘velhas’ controvérsias, temperadas pela experiência histórica realmente vivida, podem muitas vezes trazer mais luz a debates presentes do que as especulações infundadas e muitas vezes delirantes que hoje enchem os jornais. É na expectativa de que assim seja, isto é, que seja possível aprender com os debates e a experiência passada, que proponho neste breve artigo, em primeiro lugar, uma visita a uma ‘velha’ controvérsia acerca das consequências da tecnolo- gia no trabalho e no emprego e, em segundo lugar, um exame das previsões das teorias passadas feito à luz da experiência realmente vivida e, por fim, uma breve reflexão em torno dos ensinamentos que resultam das duas excur- sões anteriores. 5 Ver a este respeito Couto, J. M.; Garcia, M. F.; Freitas, C. E.; Silvestre, R. C. (2011), “Desemprego tecnológico: Ricardo, Marx e o caso da indústria de transformação brasileira (1990-2007)”, Economia e Sociedade , vol. 20,n.º 2, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-06182011000200004 As origens É à Inglaterra dos séculos XVIII e XIX que devemos via- jar se queremos reconstruir desde a origem o debate sobre as consequências da tecnologia no trabalho e no emprego 5 . É aí que em 1779 encontramos o lendário Ned Ludd a destruir uma máquina de tricotar meias, assim como sucessivos episódios muito reais de destruição de máqui- nas por trabalhadores. As revoltas dos trabalhadores industriais contra amecaniza- ção e o desemprego em Ingla- terra atingiriam o seu apogeu entre 1811 e 1819 comomovi- mento que veio a ser designado de Ludita. A exten- são deste movimento foi tal e tão alarmante que em 1812 o governo inglês, sob pressão dos capitalistas industriais, levou o parlamento a aprovar uma lei ( Frame Breaking Act ) que pre- via a condenação à morte de pessoas incriminadas pela destruição de máquinas. No mesmo ano, na sequência da destruição de uma fábrica no condado de York, 64 traba- lhadores foram detidos e 13 condenados à morte. Depois de 1819, o movimento Ludita regrediu na indústria, mas renasceu nos campos. Entre 1830 e 1833, no episódio que ficou conhecido pela Rebelião de Swing, ocorrido no Sul e Leste da Inglaterra, trabalha- dores agrícolas destruíram debulhadoras mecânicas. Embora fossem contempo- râneos destes acontecimen- Solução para a escassez de mão- de-obra, destruição de emprego, ou destruição compensada com criação de novo emprego? … tirando os mais afoitos que se imaginam capazes de prever o imprevisível… … ninguém sabe ao certo. Sabemos, no entanto, que não é a primeira vez que a inovação tecnológica e as consequências da adoção de novas tecnologias no emprego e no trabalho ocupam um lugar destacado no debate público… É à Inglaterra dos séculos XVIII e XIX que devemos viajar se queremos reconstruir desde a origem o debate sobre as consequências da tecnologia no trabalho e no emprego … robótica, mecanização e automação…
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