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26 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 cultor e membros da comunidade rural) e a natureza evoluíram conjuntamente ao longo dos tempos. Por este motivo, além da reconhecida contribuição des- tas paisagens para a manutenção da agrobiodiver- sidade, tem sido amplamente reconhecido o papel que podem desempenhar para que sejam atingidos os objetivos europeus relacio- nados não só com susten- tabilidade ambiental, mas também com segurança ali- mentar e bem-estar humano. Acresce ainda que o carácter multifuncional destas paisa- gens tem sido associado à prestação de múltiplos ser- viços de ecossistema, para além do suporte à biodiver- sidade, nomeadamente no que diz respeito aos serviços de produção (alimento, fibra, lenha), regulação (regulação de clima, erosão) e culturais (capital estético, simbólico). Neste contexto, o projeto FARSYD – Farming systems as tool to support poli- cies for effective conservation and management of high nature value farmlands (Os sistemas agrícolas enquanto instrumento de suporte a políticas de con- servação e gestão de paisagens agrícolas de elevado valor natural), atualmente a ser desenvolvido empar- ceria entre o CIBIO e o ISA (Instituto Superior de Agro- nomia, Universidade de Lisboa) visa contribuir para aumentar o conhecimento relativo à relação entre os sistemas agrícolas e os níveis de biodiversidade e de serviços de ecossistema que estes suportam em áreas teste no território português, especifica- mente o Parque Nacional da Peneda-Gerês e a Zona de Proteção Especial de Castro Verde. A abordagem concetual e metodológica deste projeto encontra-se também em teste noutras Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural em Espanha, na Alemanha e na Escó- cia. Pretende-se, genericamente, perceber de que forma os sistemas agrícolas podem ser utilizados enquanto instrumento de suporte a políticas de con- servação e gestão de paisagens agrícolas de elevado valor natural. 3. As Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural em Portugal Portugal está entre os Estados-Membros considera- dos como ‘ hotspots’ no que diz respeito à ocorrência de Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural, o que está rela- cionado com a forma como as paisagens agrícolas têm sido geridas ao longo dos séculos (Moreira et al ., 2005; Opper- mann et al ., 2012). De facto, dados publicados estimam que, em 2009, 52,4% da SAU estaria ocupada por sistemas agrícolas de elevado valor natural, valor esse que decres- ceu para 51,8% em 2011 (GPP, 2010). De uma forma geral, têmsido descritas quatro tipo- logias de sistemas agrícolas de elevado valor natural em Portugal Continental (Moreira et al ., 2005; GPP, 2010; Opper- mann et al ., 2012): os sistemas de pastoreio extensivo de montanha e os sistemas policulturais complexos, dominantes na região Norte; e as pseudo-estepes cerealíferas e os montados, dominantes na região Sul. Tal como a generalidade das Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural, estas paisagens estão adaptadas às condições ambientais locais – climáticas, edáficas, topográficas – o que se reflete quer ao nível dos próprios sistemas agrícolas, quer ao nível do valor natural que lhes está associado. Os sistemas de pastoreio extensivo de montanha, observados nas regiões Norte e Centro de Portugal, encontram-se associados à ocorrência de prados naturais dominados por Festuca indigesta (habitat 6160) ou por Brachypodium phoenicoides , onde abundam espécies de orquídeas (habitat 6210), bem como prados seminaturais dominados por Nardus (habitat 6230). Estão igualmente relaciona- dos com a ocorrência dos juncais mediterrânicos de zonas húmidas não halófitas (habitat 6420) e matos, nomeadamente matos rasteiros dominados por eri- cáceas e/ou tojos (habitat 4030). Os recursos supor- … as Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural constituem zonas onde o homem (agricultor e membros da comunidade rural) e a natureza evoluíram conjuntamente ao longo dos tempos. Por este motivo, além da reconhecida contribuição destas paisagens para a manutenção da agrobiodiversidade, tem sido amplamente reconhecido o papel que podem desempenhar para que sejam atingidos os objetivos europeus relacionados não só com sustentabilidade ambiental, mas também com segurança alimentar e bem-estar humano.
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