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16 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 ná-lo mais favorável ao crescimento de meia dúzia de variedades de plantas geneticamentemelhoradas para aumentar a produtividade da terra, as quais requerem agroecossistemas mais artificializados do que as varie- dades tradicionais. Esta intensificação baseada em inputs industriais alcançou o desejado aumento da produtividade da terra cultivada, mas à custa de um uso cada vez mais ineficiente destes inputs, de que resultaram perdas excessivas dos mesmos, as quais, por sua vez: (1) ampliaram as emissões poluentes de nitratos, fosfatos, gases com efeitos de estufa e pesti- cidas persistentes, e (2) aceleraram o esgotamento de recursos naturais úteis, como água, solo, biodiversi- dade, energia e múltiplos serviços de ecossistemas. Assim, defrontamo-nos hoje com o dilema da inten- sificação. Por um lado, a redução da superfície culti- vada por degradação dos solos ou por urbanização, os custos ambientais inaceitáveis da expansão da área cultivada à custa dos ecossistemas naturais que restam e a necessidade de aumentar a produção agrícola – para fazer face ao crescimento demográ- fico, à mudança nas dietas nos países em desenvol- vimento e à procura de matérias-primas agrícolas para fins não alimentares, como os biocombustíveis – requerem produzir mais por hectare de superfície cultivada, ou seja requerem intensificar. Por outro lado, a forma como intensificámos no passado, com base no acréscimo do uso de inputs industriais por hectare de terra cultivada, não é mais possível e/ou desejável, porque se defronta hoje com claros limites. Primeiro, é necessário reduzir a pegada ambiental da inten- sificação baseada em inputs , no que se refere quer a polui- ção química quer a perda de biodiversidade à escala pla- netária. Segundo, o melhoramento genético das plantas utilizado no passado parece estar a encontrar tam- bém sérios limites face ao desejado aumento da res- posta das plantas aos fertilizantes e pesticidas para aumentar a produtividade da terra, reduzir custos e controlar poluições. Estes limites têm a ver com a via seguida, no passado, para aumentar a produtividade da terra: concentrar a maior parte do produto da fotossíntese da planta cultivada no grão, utilizando plantas com muito grão e pouca palha, e não tanto aumentar a produção fotossintética do agroecos- sistema no seu conjunto. Acontece que as plantas necessitam de raízes, caules e folhas, e não podem ser constituídas apenas por espiga e grão. Portanto, a poderosa via de melhoramento percorrida até aqui está a esgotar-se, sem que tenham aparecido alter- nativas com igual potencial a curto e médio prazo (Brown, 2004). Terceiro, o esgotamento de recursos hídricos afeta hoje numerosas áreas agrícolas, particularmente nas regiões mais povoadas do planeta, como a China e a Índia (Brown, 2004). Quarto, os impactes esperados das alterações climá- ticas na produtividade das culturas agrícolas e nos recursos hídricos, sobretudo em zonas que têm já hoje uma reduzida produtividade, como a África Sub- saariana ou a bacia mediterrânica, lançam dúvidas sobre a nossa capacidade agrícola global no futuro. Quinto, a dependência de energia fóssil barata, induzida pelo modelo de intensificação baseada em inputs , originou uma significativa vulnerabilidade da produção agrícola face aos preços da energia, o que é particularmente relevante no atual ambiente estru- tural de subida de preços da energia. Ultrapassar o dilema da intensificação implica assim produzir mais por hectare de superfície cultivada, sem para isso ter de aumentar a utili- zação de inputs por hectare, o que requer uma mudança de modelo tecnológico na agricultura. Por isso, analisamos, em seguida, algumas características do modelo tecnológico vigente, em que se baseou a intensificação agrícola do passado: o modelo químico-mecânico. Trata-se de identificar os contornos da transição requerida do modelo químico-mecânico para um novo modelo: a intensificação sustentável. Ultrapassar o dilema da intensificação implica assim produzir mais por hectare de superfície cultivada, sem para isso ter de aumentar a utilização de inputs por hectare, o que requer uma mudança de modelo tecnológico na agricultura.
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