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Evolução da população rural no Continente 119 livro imprescindível para se conhecer a história e a geografia de Portugal, ligada ao mundo mediterrâ- neo das antigas civilizações e ao imenso Atlântico. Não se trata apenas de um livro descritivo limitado às observações do autor. Por vezes, Orlando Ribeiro atenta e opina sobre algo. Por exemplo, “ Quando no último meio século, a população cresceu em ritmo acelerado, estava a terra agrupada em poucas mãos, arredondada pelos casamentos, imobilizada numa classe que, no geral, apenas se preocupa em lhe usu- fruir o rendimento. As herdades andam arrendadas em prazos curtos: os rendeiros, para tirarem bons lucros, cansam a terra e não têm interesse em melho- rar um bem transitório.” Ou “Estes progressos técnicos não foram acompanha- dos de nenhuma revisão da distribuição dos produtos e dos fundamentos da propriedade, que a desastrada evolução agrária do último século pulverizou ou con- centrou excessivamente. Entretanto, ao embate de novas tendências, lá segue o velho carro do nosso tra- balhador rural: aos solavancos, por caminhos áspe- ros e incertos, mas abrindo cada vez mais fundas as rodeiras de uma pobreza extrema.” Ou ainda “os charcos que a seca provoca no verão, a temperatura elevada, a humidade relativa, alta nas áreas litorais e baixa no interior, o desenvolvimento dos arrozais alagados, as migrações periódicas dos ‘ranchos’ que neles vêm trabalhar, a escassez de gado estabulado, a vida ao ar livre, em cabanas mal prote- gidas ou em casas obscuras onde os anófeles gostam de permanecer durante o dia, parecem ser fatores importantes do desenvolvimento ou da manutenção da endemia sezonática (…) Portugal marca um ponto levemente carregado no mapa do sezonismo.” O livro continua atual em muitos aspetos da econo- mia e da paisagem rural. Continuam a ser determi- nantes na paisagem e na alimentação o cultivo da oliveira e da vinha. Portugal continua a ser marcado pelo minifúndio do Norte e Centro e pelo latifúndio no Sul. A tendência de despovoamento das zonas rurais tem-se mantido a par da terceirização da economia. De facto, o baixo rendimento associado à atividade agrícola continua a não prender muita gente à terra, sobretudo jovem e escolarizada, que encontra nas zonas urbanas o seu emprego e modo de estar. Como despovoamento, sucede o envelheci- mento das populações rurais, aldeias desaparecidas, antigas áreas agrícolas deixadas ao abandono. Em termos de economia silvícola, a cortiça portuguesa continua a dominar, “ …no primeiro país produtor de cortiça, com cerca de metade da produção mundial” . A agricultura perdeu expressão na economia. Con- tudo, ficou mais modernizada, sobretudo após a adesão à então CEE. O homem deu lugar à máquina. Os cereais panificáveis foram ultrapassados pelas culturas hortícolas e frutícolas. O milho suplantou o cultivo do trigo no conjunto dos cereais, destinando- -se sobretudo à alimentação animal, quando antes servia para o fabrico do pão. As culturas regadas, mais produtivas, começaram a ganhar peso face às de sequeiro. A população agrícola tornou-se mais escolarizada. Em 1945, a maior parte da população dedicava-se ao setor agrícola, base da sua subsistên- cia. Em 2020, apenas uma pequena parte encontra nesta atividade o seu rendimento, ou o complemento ao rendimento principal. A superfície de eucalipto, raramente mencionado no texto, ganhou terreno ao pinheiro bravo e à agricultura/pastorícia que se pra- ticava na região Centro. “Só o pinhal, e ultimamente também o eucaliptal, vão ganhando terreno, subindo nas encostas cobertas de mato, envolvendo o âmbito cultivado das povoações, em grupos pequenos ou em bosques densos, monótonos, intermináveis”. Orlando Ribeiro, autorretrato
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