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118 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 com várias espécies vegetais, base da alimentação. “O problema da água não deixou, desde o século XVII, de preocupar os nossos melhores espíritos. Ainda se sente o grande reflexo da oscilação climática a que se devem as cheias desastrosas e a longa estiagem, que só a rega em grande escala consegue atenuar.” A posse de terra varia essencialmente entre os mini- fúndios do Norte e Centro, divididos em parcelas de pequena dimensão bem definidas, e os latifúndios do Sul, grandes áreas de cultivo abertas nas planí- cies alentejanas, onde já se vislumbram as primeiras máquinas agrícolas que vão substituindo o trabalho manual, em geral prosseguido à custa do trabalho de pessoas provenientes das regiões mais pobres do país como sejam os “ratinhos” das Beiras que “des- cem das montanhas mais pobres de Portugal” para as ceifas do Alentejo ou os “caramelos” do Mondego Baixo e da Ria de Aveiro para trabalharem nos arro- zais do vale do Sado. “No noroeste, deve-se aos roma- nos a transformação radical de uma região selvática numa área cultivada e produtiva (…) A montanha e as regiões transmontanas, fechadas nas suas comu- nidades de terras e gados, permaneceram à margem destas transformações. (…) A propriedade divide-se, mas a exploração permanece agrupada no auxí- lio mútuo dos vizinhos da aldeia. (…) Os latifúndios alentejanos ascendem, como se viu, também à época romana. (…) À monocultura de cereais, acompa- nhada de pastoreio extensivo e do aproveitamento de produtos florestais, opõe-se a outra tendência, ainda mais forte, da exploração agrária mediterrânea: a policultura” , que alia variadas produções num espaço pequeno, recorrendo a dois estratos de cultura, um arvense, outro arbóreo. A par do trabalho do solo, há tambémo da criação de gado e do pastoreio extensivo praticado em geral em terrenos incultos e pousios. O gado “grosso” (bovino) no Noroeste de verões curtos, e o gado “miúdo” aumenta para sul e para leste – as ovelhas que ocu- pam as regiões orientais mais secas, e as cabras das terras mais pobres das regiões Centro e Algarve. “A forma mais característica do pastoreio está, porém, na montanha (…) as ovelhas das aldeias serranas começam a subir aos cimos alpestres quando, por abril, derretem as neves. (…) Com os primeiros nevões de fim de outubro ou novembro, procuram pascigo nas terras baixas, onde podem permanecer ao ar livre todo o Inverno, à guarda dos mesmos pastores serra- nos” . Dos animais, provém o leite e a carne (bovinos, ovinos e caprinos), a lã (ovelhas) e o trabalho da terra (gado de lavoura) e de carga. Contudo, “Um único animal se utiliza apenas como alimento: o porco” , criado à pia no Norte e em regime pastoril no Sul. No Capítulo III – Portugal Atlântico, Orlando Ribeiro começa por fazer um enquadramento da influência do Atlântico, grande regulador do clima, sobre os elementos naturais, como a vegetação (os matos e arvoredos atlânticos, destacando o pinhei- ro-bravo que “cobre hoje 45% da área arborizada” ), e o relevo, pois “na distinção entre um Portugal húmido e um Portugal árido intervém assim, fortemente, o contraste de relevo” . A economia da montanha nas regiões Norte e Centro, mais povoadas no Noroeste de precipitação abundante, e omaior efeito da roma- nização nas zonas baixas, nomeadamente no Sul. Neste capítulo, é ainda dado destaque à revolução do milho, que implicou “grandes arroteias, aumento da área regada (…)” e também a “ decadência irre- missível do espírito de comunidade, individualismo que se traduz no parcelamento da terra, na multipli- cação de sebes, muros e divisórias, e na disseminação das habitações, tudo o milho favoreceu, permitiu ou provocou” . O autor também faz referência à econo- mia e à população da região litoral que faz da pesca e do comércio por via da navegação o seu sustento. No Capítulo IV – Variedade e unidade de Portugal, Orlando Ribeiro refere que, apesar dos contrastes de clima, de coberto vegetal, de paisagem (Norte Atlân- tico, o Norte Transmontano e o Sul), o país constitui- -se como um “tronco antigo e robusto” . Para os fato- res unificadores do território contam as disposições naturais, as raízes antigas, a reconquista cristã e os deslocamentos da população. Comentário: Uma leitura fascinante sobre o território e o povo português dos anos 40 do século XX, mas também de um tempo mais antigo que este. Memória dos tempos e das pessoas que habitaram este lugar. Um

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