cultivar_22_Final_PT

Evolução da população rural no Continente 117 um sistema que surge em regiões de maior densidade demográfica e perto de pontos de água. Para além da agricultura, as gentes do Mediterrâneo conseguiram desenvolver neste local a pastorícia (associada à transumância) e a pesca, estabelecendo relações comerciais com outros povos através da navegação, a partir de portos marítimos, uma das bases da vida urbana. O Capítulo II debruça-se sobre o Portugal Mediterrâ- neo, caracterizado sobretudo por três influências – o mar interior Mediterrâneo, a grande massa de água do Atlântico e o relevo interior. “Portugal é mediter- râneo por natureza, atlântico por posição” . São estas influências que vão determinar os contrastes entre as várias regiões do país, desde a geografia, passando pela fauna e flora, à população. Um contraste tam- bém de relevo – das cadeias montanhosas do norte às planícies do Sul, e de clima – mediterrânico de verões quentes e secos, mais temperados junto à costa, e invernos frios e húmidos alimentados pelo Atlântico, sobretudo na vertente norte recortada por cadeias montanhosas. Contribui para a construção do Portugal Mediterrâneo a sua população e a forma como esta se adapta aos elementos naturais pre- sentes no território – os declives, o calor e a secura, o manto vegetal e as calamidades naturais (cheias, tremores de terra e endemia palustre). Um território e uma população que têm a marca da influência de civilizações antigas como a romana, a fenícia, a grega ou a árabe – na arquitetura, na língua, na organiza- ção das povoações, nas construções agrícolas para captação de água, etc. O modo de vida dos portugueses de meados do século XX baseava-se sobretudo na atividade agrícola e na pastorícia. Para a população rural, a alimentação provinha sobretudo do cultivo dos cereais para pani- ficação, e também de outras produções com menor importância. “Os campos imprimem o traço mais vigoroso da paisagem agrária portuguesa. (…) Se o pão, o vinho e o azeite formam a trilogia da alimenta- ção nos países mediterrâneos, aos cereais, que cons- tituem a base tradicional da nossa exploração agrí- cola, cabe de direito nessa trilogia o primeiro lugar” . Da área de cereais, 48% pertence ao trigo (Alentejo e Estremadura), que “vai suplantando os outros” , 38% ao milho (Minho, Beira Alta e Litoral) e 14% ao cen- teio (Trás-os-Montes e Beira Interior). O cultivo dos cereais transforma a paisagem em diferentes mode- los de campo – o campo-prado do Minho com a produção de milho regado; o campo aberto do Nor- deste transmontano e do Sul com o pousio; o campo aberto sem pousio; o campo fechado de sequeiro; os campos intercalares do Ribatejo, Estremadura e Algarve com cereais de sequeiro entre culturas arbó- reas e arbustivas (e.g. vinha e olival). As culturas da vinha e do olival também são protago- nistas da paisagem rural: “os vinhedos ocupam hoje um lugar de relevo na nossa paisagem agrária (…) Foi a vinha o principal incentivo para se arrotearem terras pobres, declivosas ou areentas (…) Os areais e as encostas prestam-se bem ao cultivo da vinha e dificilmente suportariam outro; mesmo em terrenos pobres, o rendimento é sempre compensador. (…) A vinha ocupa hoje uma área de 344.000 hectares, 10% da superfície cultivada. (…) Portugal é o quinto país produtor de vinho no mundo; ele representa cerca de ¼ no valor das exportações antes da guerra e o Porto é certamente o produto do nosso solo que logrou mais universal celebridade.” E em relação à oliveira: “A área coberta de olival aumentou 85% entre 1874 e 1934. (…) O número de oliveiras ultrapassa hoje 40 milhões, numa área de 370.000 hectares, cerca de 11% da superfície agrí- cola. (…) A cultura levou a árvore a toda a parte e acomodou-a a todos os solos e climas: mas é visível a preferência dela pelos calcários e regiões quentes resguardados de ventos do mar (…) A Estremadura, com o Ribatejo e o Alentejo produzem 60% do total.” Mas, além destas, também as culturas regadas ocu- pamparte do território: omilho regado do Minho dos verões curtos e de precipitação intensa; os arrozais banhados pelas águas do Mondego e do Sado. Mais a Sul, o clima, em particular no verão, não é tão favo- rável ao regadio, obrigando o homem a estratégias para captação de água. Da cultura regada fazem parte os citrinos no Algarve e as hortas dispersas pelo país, nomeadamente em zonas de maior den- sidade populacional, pequenos espaços cultivados

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