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116 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 O Capítulo I – O mundo Mediterrâneo aborda toda a dinâmica geológica (o litoral e o relevo), climática, vegetal e humana (os modos de vida e a população e o povoamento) que rodeia o mar Mediterrâneo, que integra três continentes – Europa, África e Ásia. Este local do globo é considerado um dos mais antigos da civilização humana. Um mundo marcado por relações de convergência (e.g. relações comerciais) e de divergência (e.g. guerras) entre povos. Ações humanas do passado que influenciaram a paisagem de hoje. A geologia do Mediterrâneo vai desde a costa da Europa, muito recortada, criando saliências na paisa- gem, “uma complexidade de penínsulas e arquipéla- gos, de enseadas e de golfos profundos” , que podem assumir perigos ou oferecer proteção às embarca- ções que as atravessam, aos altos-relevos gerados por movimentações tectónicas de outras eras ou de tempos mais recentes, ou aos desertos do norte de África. O clima de verões quentes e secos e de invernos frios e chuvosos característicos do Mediterrâneo inclui também tipologias várias. O clima não se faz apenas de latitude, mas também de altitude e dos efeitos de proximidade de outras zonas de climas diversos. Por- tugal, localizado na faixa mais ocidental da Europa continental, não banhado diretamente pelo Mediter- râneo, continua a sofrer a influência deste e do Atlân- tico com quem faz fronteira. Neste capítulo, é referido que “os tratados distinguem como nome de clima por- tuguês um tipo especial, caracterizado por Invernos benignos, estios moderados, embora quentes e sem- pre secos, amplitude anual reduzida. Na realidade, vários climas onde, combinados em doses diversas ao longo da orla atlântica ibérica, os caracteres mediter- râneos se vão atenuando, esbatendo-se sob a pressão húmida e morna do grande sopro atlântico”. O clima com características mediterrânicas predis- põe a algumas espécies vegetais. Por exemplo, o verão quente e seco condiciona a presença de espé- cies de folha perene, ou cobertas de espinhos, ou de pequena dimensão e coriáceas, ou carnudas, como forma de resistir à perda de água por transpiração (adaptações xerofíticas). Muitas destas plantas (exó- ticas) foram trazidas de outros continentes pela mão do homem, integrando-se muito bem nesta geogra- fia, dispersando-se com facilidade e conquistando expressão na paisagem. De facto, a influência de humanos nesta região é já antiga: desde o recuo dos últimos glaciares, que o homem tem vindo a trans- formar a paisagem por forma a obter os recursos de que necessitava, nomeadamente os alimentos. “Foi ainda o homem que, ao introduzir em diferentes épocas grande variedade de plantas agrárias, enri- queceu a vegetação e transformou as paisagens. E fê-lo de maneira tão profunda que nem sempre é fácil separar o que provém da sua ação do que a precedeu ou escapou a ela” . Estas plantas vão desde espécies de origemmediterrânica, como a oliveira e a figueira, às trazidas de outras geografias, como o trigo mole, a vinha e as pomóideas (da Ásia), ou o milho e a batata (da América), ou a laranja doce (da China pelos por- tugueses). “Cada grande impulso de civilização mar- ca-se pelo enriquecimento do património agrário” . As terras banhadas pelo Mediterrâneo foram fun- damentais para a fixação de população. Contudo, a agricultura não é fácil nesta região, “ exigindo aos homens constantes canseiras” ao trabalharem um “solo no geral delgado e pobre, com a rocha mãe dura e hostil” . As zonas de relevo, onde a terra arável facilmente se esvai com as enxurradas de Inverno, requerem socalcos para sustentar os terrenos. As pla- nícies que se inundam de água das chuvas e de mar salgado obrigam a trabalhos de escoamento. Vista de cima, a paisagem mediterrânica é descrita como “um puzzle complicadíssimo de fragmentos das mais variadas utilizações, a cada passo interrompidos por afloramentos de rocha e troços de mato ou bosque, em solos que não comportam a cultura regular”. Dois sistemas de cultura destacam-se no Mediterrâ- neo – o sequeiro e o regadio. O sequeiro privilegia as culturasmais resistentes e adaptadas ao clima, produ- zidas de forma extensiva, possibilitando uma recupe- ração natural do solo. E o regadio obriga a trabalhos frequentes “em que o homem anda sempre à roda da planta e lhe consagra, tal como na arte da jardinagem, infinitos cuidados e canseiras” , sendo adotado um regimemais intensivo, onde se produz omais possível num espaço limitado e num curto período de tempo,

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