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Editorial 9 zação da mão-de-obra agrícola é outra questão que merece uma análise atenta. No artigo de José Maria Castro Caldas, da Universi- dade de Coimbra, recorda-se que a atual alteração de paradigma tecnológico não é a primeira vez que acontece, recorrendo à história do pensamento eco- nómico e aos futuros que no século XIX se concebiam, para mostrar que não se pode “ prever o imprevisível ”. O autor considera que diversos “ dispositivos institu- cionais como a legislação do trabalho, os sindicatos e a contratação coletiva ” foram um fator decisivo para evitar que certas previsões mais pessimistas se tornassem realidade, concluindo que a “ tecnologia em si mesma não é determinante (…) dependendo os seus impactos do contexto institucional ”, o qual, por sua vez, “ depende de escolhas políticas ”. Cultivar N.º 11 – População e território rural, março de 2018, p.13 6 Em Portugal, a transição de uma sociedade rural e agrícola para uma realidade crescentemente urbana foi efetuada de modo rápido, muitas vezes sem per- mitir a devida assimilação da mudança. O “rural” necessita de uma abordagem integrada entre várias políticas setoriais e em que é importante não só entender as dinâmicas sociais em presença, mas também conhecer melhor o edifício, por vezes labi- ríntico, de instrumentos de ordenamento do espaço territorial. O tema é enquadrado de forma abrangente no artigo de João Ferrão, em que o autor começa por alertar que os espaços rurais nunca foram homogéneos e que a evolução da população foi sendo condicio- nada pelas relações entre os três vértices do triân- gulo ecologia-comunidade-economia. Salienta que o despovoamento constitui a regra na maior parte dos municípios rurais e considera uma mensagem política errada a ideia de que é possível reverter esta perda demográfica em todas as áreas rurais, sublinhando que o “ direito ao lugar ” deve estar a par 6 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_11/#14 7 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_12/40/ 8 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_19/Cultivar_19.pdf do “ direito à mobilidade ”. Frisa ainda que não existe uma resposta única, devendo as políticas públicas prevenir o despovoamento (onde não se verifica), combatê-lo (onde pode ser reversível) e geri-lo (onde já não pode ser estancado). Cultivar N.º 12 – Alterações climáticas, junho de 2018, p.39 7 As alterações climáticas são um tema cada vez mais incontornável quando se fala do futuro da agricultura e das florestas, uma vez que o setor é dos mais vul- neráveis aos seus impactos, tendo simultaneamente áreas sinalizadas como contribuintes de emissões. É essencial que sejam encontradas soluções inova- doras de compensação e de mitigação de emissões e de novas práticas de gestão. Estas deverão passar por aumentar a eficiência, produzindo mais com menos e reduzindo o desperdício, assim como por novas formas de descarbonização, devendo essa “contabilidade” corresponder a uma avaliação de conjunto. Hervé Guyomard e a sua equipa do Institut national de la recherche agronomique (INRA) francês abordam a melhor forma de ter em conta a proteção ambien- tal na PAC pós-2020, preservando simultaneamente a necessária competitividade. Falam do papel das preocupações ambientais na PAC ao longo do tempo, referindo que o processo de reforma estará, de certa forma, incompleto enquanto as não integrar plena- mente. Propõem soluções para melhorar os instru- mentos atuais e aproveitar as oportunidades exis- tentes, baseando-se no incentivo ao fornecimento de serviços ambientais, ao invés do cumprimento de um conjunto regulatório de obrigações individuais, recor- rendo à contraposição serviços/”desserviços”. Cultivar N.º 19 – Macroeconomia e agricultura, abril de 2020, p.33 8 Enquanto ramo da economia (não por caso, o ramo 1 dos 99 ramos com que a economia portuguesa é

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