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100 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 A estrutura de consumos intermédios caracteriza-se pela predominância das componentes da alimen- tação animal (43,4%), dos outros bens e serviços (24,0%) e da energia e lubrificantes (7,3%). Na última década, verificou-se uma perda de peso da alimenta- ção animal (-5,6p.p.) em detrimento dos outros bens e serviços (+3,9p.p.) e da manutenção e reparação de material e ferramentas (+1,6p.p.). Entre 2010 e 2020 9 , os consumos intermédios agríco- las evoluíram a uma média anual de 3,4%, em valor, em resultado sobretudo do crescimento do volume de consumos intermédios utilizados na atividade agrícola (2,8% ao ano), em particular a aquisição de outros bens e serviços (5,4% ao ano) 10 , a segunda componente com maior peso na estrutura de con- sumos intermédios agrícolas depois da alimentação 9 Recorreu-se a médias trienais para analisar esta evolução. 10 A industrialização da agricultura é um fenómeno já com alguns anos. Em setores muito integrados, como o vinho, o azeite ou a carne, em que os agricultores são também transformadores de produtos agrícolas, torna-se complexa ou arbitrária a imputação de preços de produção. Mais recentemente, tem aumentado a integração do setor hortofrutícola. Para além disso, a imputação de alguns custos também levanta dificuldades, levando em geral à desvalorização do setor primário. Por exemplo, a valorização da produção de vinho ou azeite agrícola tem como referência o vinho “à saída do lagar”, mas custos com garrafas, rótulos, publicidade, por serem suportados por cooperativas agrícolas, são imputados ao setor agrícola. A aquisição de serviços imputada ao setor agrícola aumentou exponencialmente nos últimos anos, nomeadamente devido à expansão da integração vertical da fileira alimentar até à comercialização; à substituição de equipamentos da exploração (veículos, máquinas, ferramen- tas, armazéns), que integravam o capital fixo, pela aquisição de serviços de transporte, de reparação, de conservação de bens e à contratação indireta de mão-de-obra, através de empresas. animal, a manutenção e reparação de material e fer- ramentas (11,6% ao ano), a manutenção e reparação de edifícios agrícolas e de outras obras (6,8% ao ano) e os serviços agrícolas (5,5% ao ano). Em 2020, os consumos intermédios cresceram 0,5% em valor, em resultado da evolução positiva dos pre- ços (0,6%). Para a evolução em volume, destaca-se o contributo negativo dos outros bens e serviços (-4,0%) e positivo dos adubos e corretivos do solo (7,6%), dos produtos fitossanitários (7,6%), da manu- tenção e reparação de material e ferramentas (1,6%). Já em valor, salienta-se o crescimento dos adubos e corretivos do solo (3,4%), dos produtos fitossanitá- rios (10,7%) e dos alimentos para animais (2,0%). Nota Metodológica • O Instituto Nacional de Estatística publica regularmente informação estatística que serve de base de análise da economia portuguesa, nomeadamente do complexo agroflorestal e das suas componentes agroalimentar e florestal. • As estatísticas do INE utilizadas na análise do complexo agroflorestal são as contas nacionais. Em relação às contas nacio- nais é de referir que os valores definitivos de uma variável num determinado ano só são publicados passados dois anos, por exemplo os valores definitivos do PIBpm de 2020 só serão conhecidos em 2022. Pelo que, até lá os valores são con- siderados provisórios pois baseiam-se em estimativas com base em informação conhecida e tratada até ao momento. • Por exemplo, o caso do complexo agroalimentar, que inclui o setor agrícola e as indústrias agroalimentares das bebidas e do tabaco (IABT), o VAB para 2020 é estimado a partir de informação INE para as respetivas componentes. O VAB de 2020 do setor agrícola decorre das contas económicas da agricultura (contas satélite), publicadas pelo INE, com a 1ª estimativa anunciada no final 2020 e a 2ª estimativa no mês de fevereiro de 2021, e apontam para uma descida do VAB. Já o VAB de 2020 das IABT é estimado pelo GPP a partir dos índices de produção industrial do INE indicando uma diminuição na produção das IABT entre 2019 e 2020. • Contudo, outra informação estatística do INE parece apontar para o crescimento da procura de bens alimentares, assim como para a variação positiva das exportações acompanhada de uma diminuição das importações agroalimentares, não sendo fácil explicar cabalmente estas variações face à variação do VAB anterior. Note-se que a metodologia dos “preços constantes 2016” utilizada na análise do VAB em volume pressupõe alguma estabilidade relativa na estrutura de preços do ano base. Porém, tratando-se 2020 de um ano atípico, poderão surgir algumas inconsistências na análise em volume, por exemplo uma grande amplitude entre os preços do petróleo em 2020 e em 2016 (estrutura de preços alterada) poderá explicar, em parte, estas diferenças.

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