Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 40 E afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía. Luís de Camões in Sonetos Mas a mudança que vai ocorrendo na atividade agrícola e no espaço rural não é, muitas vezes, per- cebida a tempo, por não se estar atento aos sinais iniciais e não se entender a sua força e a sua neces- sidade. Pior só quando ideias preconcebidas ou do “dever ser no futuro” criam obstáculos ao seu desen- volvimento natural. Antecipação ou ajustamento à mudança Simplificando o possível, entende-se por explora- ção agrícola uma entidade onde recursos escas- sos de terra, trabalho e capital são organizados de modo a obter um determinado resultado eco- nómico. Entendem-se como incluídas na análise todas as explorações, quer sejam de tipo familiar, quer sejam de tipo empresarial. Naquelas, o sus- tento e a melhoria das condições de vida da famí- lia são o objetivo dos seus elementos; nestas, o fim último tem a ver com a remuneração dos capitais próprios investidos. De qualquer modo, o agri- cultor naqueles dois enqua- dramentos pode desempe- nhar, simultaneamente, os papéis de empresário, capi- talista, gestor e trabalhador. Mas pode também ser capi- talista, empresário e gestor ou apenas capitalista e empresário. Embora relevantes, não se consideram na análise questões associadas à dimensão quer física quer económica das explorações, sendo, no entanto, conveniente elencar um conjunto de características que diferenciam o setor agrícola, pois, muitas vezes, estão na origem dos problemas que surgem: a sazo- nalidade de muitas produções e a incerteza quanto ao volume de produção, dependente das condições climáticas; a produção de produtos perecíveis e a necessidade de estes terem níveis de qualidade e de sanidade alimentar ade- quados. Não devem, entretanto, esquecer-se duas outras situações incontornáveis para o setor. Em primeiro lugar, longe de ser sua especificidade exclusiva, aponta-se, como regra, a não influência da exploração na formação dos pre- ços, o que implica um acréscimo de incerteza face ao respetivo nível e evolução. Em segundo lugar, o quadro crescente das exigências da regulação que a política impõe e com que condiciona o setor. Neste último aspeto, a política, quer na sua face regulatória quer na sua face de subsidiação, não pode deixar de, ao ter implicações sobre as deci- sões dos agricultores, ter influência sobre a eficiên- cia do setor, podendo criar situações de dificuldade de acesso de novos atores. Em última análise, a atividade agrícola subordinada à troca (mercado) baseia-se na equação Resulta- dos = Proveitos – Custos (R=P-C) . É no comporta- mento destas variáveis que se joga a necessidade de mudança. Ou porque houve uma abertura de mercados e as receitas baixaram, ou porque uma nova tecnolo- gia tem impacto na produti- vidade ou nos custos unitários, ou ainda porque os resultados obtidos com os recursos aplicados ficam aquém dos que se obteriam noutras atividades ou aplicações. … a atividade agrícola subordinada à troca (mercado) baseia-se na equação Resultados = Proveitos – Custos (R=P-C). É no comportamento destas variáveis que se joga a necessidade de mudança. Mas a mudança que vai ocorrendo na atividade agrícola e no espaço rural não é, muitas vezes, percebida a tempo, por não se estar atento aos sinais iniciais e não se entender a sua força e a sua necessidade.

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