Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

Trabalho agrícola: percursos e modelos 35 tor, o que contrasta com o relativo equilíbrio de proporções no conjunto dos sistemas produtivos. 8. O trabalho agrícola regis- tou, no último século, gran- des mudanças onde sobres- saem a contínua retração dos que dele se ocupam e uma profunda transforma- ção tecnológica. Esta apa- rece associada ao desenvol- vimento da externalização/ terciarização que tem con- tribuído para reconfigurar o quadro institucional do trabalho agrícola, multipli- cando o número de intervenientes, e para possibi- litar o emergir de novas possibilidades de organiza- ção dos sistemas de produção, na medida em que a gestão destes possa deixar de depender dos equi- pamentos e competências, de que dispõe interna- mente a exploração. Acentuou-se, ainda, sobretudo desde meados do século XX, a distância entre o número dos que, de facto, trabalham na agricultura e os que, nos recen- seamentos da população, se classificam como ati- vos agrícolas. Estes são, hoje, uma pequena parte comparada com o contributo dos que tendo como principal outra profissão/ocupação, também se dedicam à agricultura, e dos prestadores de servi- ços. No caso do trabalho eventual, nas operações em que há uma grande necessidade de mão-de-obra num período reduzido, tudo mudou mas tudo ficou na mesma . Antes, eram os cereais e os ranchos de ratinhos ; hoje, são as hortofrutícolas e o trabalho imigrante. Antes, eram as más condições de vida, de trabalho e de renumeração; hoje, tudo isto se mantém. As alterações verificadas não apagaram, também, nos modelos de trabalho agrícola, a diferencia- ção entre as explorações familiares e as capitalis- tas. Esta diferenciação é marcada sobretudo pelas características distintas do trabalho familiar e do tra- balho assalariado, este pre- ponderante nas unidades empresariais. O primeiro, na sua gestão e renume- ração, é o objetivo central das unidades familiares. O segundo, nas explorações capitalistas, é um custo, a reduzir o mais possível. Referências bibliográficas Baptista, Fernando Oliveira (2010), O Espaço Rural. Declínio da Agricultura. Oeiras: Celta Editora Canadas, Maria João P. Rafael (1998), Trabalho, Território e Tecnologia: transformação e situação actual na viticul- tura . Lisboa: Instituto Superior de Agronomia [ISA]/UTL, dissertação apresentada no ISA para obtenção do grau de doutor em Engenharia Agronómica. 414 p. Cordovil, Francisco c/ Rolo, Joaquim Cabral (2014), “Agricul- tura Familiar em Portugal. Esboço da sua importância e diversidade no limiar da década de 2010”. Em Rede, Revista da Rede Rural Nacional n.º 5. DGADR / Rede Rural Nacional, pp. 13-21 Radich, Maria Carlos e Baptista, Fernando Oliveira (2014), Tecnologia tradicional. Identificação e declínio, em “Caminhos e Diálogos da Antropologia Portuguesa. Homenagem a Benjamim Pereira”, pp.23-43 Rolo, Joaquim Cabral (1996), “Imagens de meio século da agricultura portuguesa” in AA.VV (J. Pais de Brito et al. coords.), O voo do arado . Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, pp. 77-157 Rolo, Joaquim Cabral e Cordovil, Francisco, Territórios, rural e agriculturas – Portugal nos anos 2000 (144 p. em PDF; no prelo) No caso do trabalho eventual, nas operações em que há uma grande necessidade de mão-de-obra num período reduzido, tudo mudou mas tudo ficou na mesma. Antes, eram os cereais e os ranchos de ratinhos; hoje, são as hortofrutícolas e o trabalho imigrante. Antes, eram as más condições de vida, de trabalho e de renumeração; hoje, tudo isto se mantém.

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